Toda a roça do candomblé é considerada lugar sagrado. No momento em que o fiel entra no terreiro, entra num lugar
mágico-sagrado. Logo na entrada há o assentamento de um tipo especial de Exu que defende a comunidade e todos os seus filhos. O mundo de fora é perigoso e cheio de dificuldades. Dentro, existem várias provas a serem superadas, mas as filhas-de-santo encontram aliados na luta pela sobrevivência e no caminho místico-religioso. No terreiro há vários lugares sagrados, mais ou menos perigosos segundo a energia que transmitem. Por isso nem todos podem entrar nas casas dos orixás ou circular de noite nos lugares dedicados aos espíritos dos mortos.
mágico-sagrado. Logo na entrada há o assentamento de um tipo especial de Exu que defende a comunidade e todos os seus filhos. O mundo de fora é perigoso e cheio de dificuldades. Dentro, existem várias provas a serem superadas, mas as filhas-de-santo encontram aliados na luta pela sobrevivência e no caminho místico-religioso. No terreiro há vários lugares sagrados, mais ou menos perigosos segundo a energia que transmitem. Por isso nem todos podem entrar nas casas dos orixás ou circular de noite nos lugares dedicados aos espíritos dos mortos.
Tanto a rua, o mundo de fora da roça, quanto o próprio terreiro poderiam
simbolizar uma peregrinação, um caminho iniciático, lugar de passagem para
alcançar o barracão, o lugar onde as divindades se manifestam, nas cerimônias
públicas.
simbolizar uma peregrinação, um caminho iniciático, lugar de passagem para
alcançar o barracão, o lugar onde as divindades se manifestam, nas cerimônias
públicas.
O espaço onde acontecem as festas públicas é chamado barracão. É um salão muito amplo, onde, logo na entrada, há uma arquibancada. Do lado direito, sentam-se as mulheres e, do lado esquerdo, os homens. Na frente da entrada, é colocado o trono da Ialorixá, cujo lado direito é reservado às filhas-de-santo e as ebômis com cargo, enquanto o lado esquerdo é reservado aos obás de Xangô, os ministros deste orixá. No lado direito, além das mulheres, está colocada a orquestra com os três atabaques.
Na sua frente ficam as famílias dos ogãs, hierarquia leiga do candomblé, ou algum convidado particular.
O fiel dança, segundo Wheatley (1983),
ao redor do centro sagrado, um ponto da terra ligado ao céu por um invisível
raio energético, o axis mundi. Nesse ponto estão enterrados os fundamentos da casa, que também são colocados no teto, num lugar diametralmente oposto.
ao redor do centro sagrado, um ponto da terra ligado ao céu por um invisível
raio energético, o axis mundi. Nesse ponto estão enterrados os fundamentos da casa, que também são colocados no teto, num lugar diametralmente oposto.
O centro do barracão é fundamental nas religiões africanas, porque é o lugar onde a árvore mágica liga o céu à terra, conforme Davidson (1972) e Deren
(1997).
(1997).
Em geral, os lugares sagrados apresentam as mesmas analogias: em cima do ponto sagrado, o céu, o teto redondo e a cúpula tomam a forma da terra embaixo (que é símbolo do feminino e do espaço que contém), uma árvore sagrada na África, um obelisco ou um minarete nos países árabes (símbolos do masculino, do céu e do tempo) ligam a abóbada ao chão.
Mas nem sempre essa árvore existe visivelmente. No Axé Opô Afonjá, por exemplo, não sabemos por que motivo não há um poste central. Para Eliade
(1969:26):
(1969:26):
O termo roça está próximo do termo aldeia. É um lugar onde se cultivam as plantas e se criam os animais.
De acordo com Vivaldo da Costa Lima: “(…) os
obás de Xangô, são os Ministros de Xangô, o grupo foi instituído formalmente no candomblé de São Gonçalo, no ano 1937, quando aquele terreiro
estava sob a direção de sua primeira mãe-de-santo Eugênia Ana dos Santos. Os obás, são doze, dividem-se em duas falanges, seis do lado direito, e seis
do lado esquerdo”. Cada terreiro tem seu próprio fundamento.
obás de Xangô, são os Ministros de Xangô, o grupo foi instituído formalmente no candomblé de São Gonçalo, no ano 1937, quando aquele terreiro
estava sob a direção de sua primeira mãe-de-santo Eugênia Ana dos Santos. Os obás, são doze, dividem-se em duas falanges, seis do lado direito, e seis
do lado esquerdo”. Cada terreiro tem seu próprio fundamento.
Podemos observar, em alguns terreiros de Salvador, como o do jeje Bogum e o terreiro do Cobre, na Federação, ou o mais antigo, a Casa Branca do Engenho Velho, a simbolização da árvore sagrada na forma de um poste central que liga simbolicamente o céu à terra. Em outros terreiros, como no Gantois, a coluna sagrada não existe, mas permanece a simbologia do centro do barracão.
“(…) o centro da realidade absoluta, assim como todos os outros símbolos da realidade absoluta (Árvore da Vida e da Imortalidade, Fonte da Juventude etc.) encontra-se num centro. O caminho que conduz ao centro é um “caminho difícil”, e isso verifica-se em todos os níveis do real: circunvoluções complicadas de um templo; peregrinações aos lugares santos (Meca, Jerusalém, etc.); peregrinações aventurosas das expedições do Velo de Ouro, da Erva da Vida; todas as dificuldades dos que procuram o caminho para o “si”, para o “centro” do seu ser etc.”
A Criação, em toda a sua extensão, se efetuou a partir de um “centro” e por isso tudo aquilo que é fundado está no centro do mundo. A partir do centro passam dois eixos — um vertical e o outro horizontal — tempo e espaço. Segundo Wheatley existem alguns paradigmas astrobiológicos que formam a estruturação do espaço, ou seja, existe um paralelismo entre o espaço cósmico e o do ser humano, entre macrocosmo e microcosmo. O mundo dos seres humanos é construído à imagem do dos deuses e a harmonia é garantida por meio de rituais.
Assim, o espaço na terra deve ser sacralizado através dos rituais.
O barracão é o lugar externo do culto, é a construção arquitetônica que foi sacralizada e que, pelo fato de deter cerimônias periódicas, torna-se um espaço sagrado. O corpo humano é o lugar interno do culto, receptáculo da divindade e, por si mesmo, sagrado. Esses dois lugares são o teatro da transformação ritual, neles o fiel deixa o mundo cotidiano e chega ao encontro tão assustador, mas tão desejado, com o divino. É somente no espaço sagrado que ele pode voltar à totalidade — sendo sustentado pelo seu grupo e pela experiência da mãe-de-santo e das ebômis — e se comunicar com a divindade.
O espaço do barracão, durante o ritual, é preenchido pelos corpos das sacerdotisas, que logo se transformam em orixás.
Dessa maneira, o espaço está preenchido pelos níveis dos corpos em movimento e pelas direções, que, por sua vez, são os caminhos do corpo no espaço que simbolicamente expressam as várias possibilidades de caminhar em direção ao sagrado. A divindade pode utilizar uma estrada curvilínea mais moderada (como o andar de Iemanjá), ou um caminho que prevê várias mudanças de direção (como o de Oiá ou de Ogum).
Dessa maneira, o espaço está preenchido pelos níveis dos corpos em movimento e pelas direções, que, por sua vez, são os caminhos do corpo no espaço que simbolicamente expressam as várias possibilidades de caminhar em direção ao sagrado. A divindade pode utilizar uma estrada curvilínea mais moderada (como o andar de Iemanjá), ou um caminho que prevê várias mudanças de direção (como o de Oiá ou de Ogum).
Mas há também um outro espaço, ainda mais precioso, o do interior do corpo, no qual acontece a transformação principal: ade deixar entrar o orixá. Pelo fato do corpo ser a representação do macrocosmo, a coluna vertebral simboliza a árvore sagrada, pois liga os pés ao ori, os ancestrais ao orixá, enquanto que os braços abertos mostram a ligação com o social. No momento das danças de transe, o espaço é preenchido mais “densamente” pela a energia dos orixás que o estão utilizando e ocupando em todos os níveis: alto, médio e baixo.
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