Estou entre kardec e candomblé fazem 10 anos que estou no caminho da espiritualidade. Nesse longo caminho percebi que uma das coisas mais difíceis na religião, qualquer religião, é a convivência humana.
O misturar de ideias, vontades, frustrações. Tudo isso no mesmo balaio sempre será difícil administrar. Quando está tudo bem, normalmente não tem problema, mas quando nossa vida não anda bem o reflexo na comunidade de asé é imediata. Nesse momento as diferenças começam aflorar, somos menos tolerantes.
O candomblé me obrigou a aprender viver em comunidade. Ele te força aceitar e respeitar o próximo. Não existe meio termo quando se vive em comunidade. Quem é verdade sabe quem é de mentira.
Uma das muitas mensagens que recebo pelo site são de pessoas reclamando dessa convivência e muitos querendo sair do asé. O conselho que dou hoje é simples : Aprenda a lidar com seu ego. Olhe para dentro de você antes de olhar para os outros. Se transforme. Seu orisa é um só. Está dentro de você. Com isso ninguem irá tirar isso de você, então para que sair. Essa seria sua oportunidade de evoluir.
Na minha opinião o grande desafio de todas as religiões, viver bem em grupo.
Todo grupo existirá pessoas com mais afinidades umas com as outras. Algumas não irão se entender. Existira ciumes e todos os sentimentos possíveis.
Bom, mesmo sendo difícil e muitas pessoas se decepcionando, tem as pessoas que se superam e te surpreendem positivamente.
Falando desses 4 anos de santo, não ficarei em cima do muro. Tenho as pessoas que gosto, tenho as pessoas que não tenho afinidade mas respeito, pois a educação e o respeito caminham juntos. Isso vem de berço, você tem ou não tem. Mas quando temos que ser exemplo isso acaba pesando.
Na minha raiz tenho um carinho especial por algumas pessoas que tiveram um papel determinante no meu caminho.
O que muitos não sabem que para eu existir como iniciado :
- pessoas deixaram de sair para se divertir,
- ficaram de preceito por meses,
- deixaram de ficar com seus familiares,
- deixaram festas, namorados, namoradas,
- familias brigaram por não entender tamanha privação
Isso é doação . SACRIFÍCIO.
PARA TER O LUXO E A BELEZA DAS FESTAS.
ESSAS PESSOAS FICARAM 24, 48 horas sem dormir.
No candomblé nada é realizado sozinho. Tudo a comunidade participa.
Aprendi a respeitar as diferenças com as pessoas. Quando você está recolhido entende o sacrifício de seu semelhante por você ou pelo seu orisa.
Mirella , abian de osaala.
Ontem escolhendo as fotos dela, notei que parte das fotos estou ao seu lado.
Na minha iniciação ela não podia subir no quarto do santo, pois osaala poderia não deixa-la sair de lá.
Ela foi uma das primeiras pessoas que tive contato na casa. Viramos amigos.
Em 4 anos de santo perdi as contas de quantas vezes ela abriu mão de sua vida pessoal pela causa chamada Candomblé.
Dormiu num colchão fino, no meio do barracão. Ficar dias sem voltar para casa. Não ter hora para dormir. As vezes não ter hora para comer.
Mesmo assim sempre sorrindo.
Pessoa de alma boa. Já tomamos “baixa” (bronca) juntos. Já fomos julgados e algumas vezes sem direito de defesa.
Já me aconselhou , já ouviu eu reclamar muito. Já me viu chorar.
Ela participou de toda construção do filho de santo Robson Tode.
Já me defendeu quando fui criticado, e ainda acabou sendo criticada.
Hoje por razões trabalhistas não tenho uma vida efetiva na comunidade. Muitos nem falam comigo, outros são indiferentes. Mas outras pessoas como a Mirella sempre sorriem quando chego. Aprendi muita coisa com ela, assim como com outros do asé.
Mas aqui de forma publica demonstro minha admiração por ela.
Mesmo sendo uma abian, não é uma iniciante. Mesmo não sendo feita, seu orisa se torna gigante diante de sua bondade e doação.
Diria que gostaria de ser metade do que você é. Estou longe disso. Tenho muitos espinhos para ser uma filha de santo como você.
Sua dedicação.
Seu amor ao orisa.
Seu sorriso para seus semelhantes no asé.
Seu sacrifício em prol do próximo.
Parece pouco para quem olha de fora.
Parece simples para quem está lendo.
Parece que estou puxando o saco, mas só estou reconhecendo.
Aqui faço uma promessa , quebrando o protocolo do asé. Claro se nossa mãe permitir. Daqui a três anos completarei 7 anos de santo e gostaria que nesse dia você estivesse ao lado de Odé quando for dar seu RUM.
Pois se para mim você foi importante para Odé não tem preço o que já fez.
CANDOMBLÉ NÃO EXISTE SEM PESSOAS.
CANDOMBLÉ NÃO EXISTE SEM SACRIFICIO.
CANDOMBLÉ NÃO VIVERÁ COM VAIDADE.
MAE PEQUENA ,PAI PEQUENO,EKEDE,OGAN, MAE CRIADEIRA , ABIAN, YAWO antes de serem tudo isso são pessoas que tem seus medos, seus sonhos, seus ideias, seus traumas. Os orisas que escolheu que todos estivessem juntos. Deve ter alguma razão. Aqui deixo algumas questões :
- Vamos juntos evoluir, perdoar, aceitar, entender as razões dos orisas ou vamos ser indiferentes ?
- Vamos somar ou separar e mostrar ao mundo como nossas casas são separatistas ?
O CANDOMBLÉ TEM QUE EVOLUIR PARA DENTRO E NÃO PARA FORA.
CANDOMBLÉ É ACEITAR AS DIFERENÇAS.
Somos a única religião que não faz distinção de credo, cor, preferências sexuais e morais. Atendemos a todos, mas não fazemos isso internamente.
Mirella MUITO OBRIGADO.
Osaala MUITO OBRIGADO.
Saiba que Odé semeia o caminho que osaala irá trilhar em sua vida.
Odé nunca te deixará passar qualquer necessidade.
Seu Pai é Osaalá, mas terá sempre a cobertura de Odé. Pois seu irmão é filho de Odé mas tem a cobertura de Osaalá.
Desejo que no seu caminho sempre tenha um passarinho cantando pois saberá que Odé estará ali.
Em cada encruzilha ouvira uma gargalhada, pois o dono da rua estará ali.
Quando passar diante do rio , nossa mãe estará sorrindo , então nosso caminho estará completo.
Meu ori no chão para você , pois sem você e a família de asé , não estaria completando 4 anos de santo.
Texo de Robson TOdé
Povo de Santo
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