Por Maísa Intelisano (Revista Espiritismo & Ciência
Especial - Nº 11 - Mediunidade)
A PALAVRA ANIMISMO VEM DO LATIM ANIMA, QUE significa
"alma", e foi usada pela primei¬ra vez por Alexander Aksakov em seu
livro Animismo e Espiritismo (Ed. BestSeller), para designar "todos os
fenômenos inte¬lectuais e físicos que deixam supor uma atividade extracorpórea
ou à distância do organismo humano e, mais especialmente, os fenômenos mediúnicos
que podem ser explicados por uma ação que o homem vivo exerce além dos limites
do corpo".
André Luiz, em .seu livro Mecanismos da Mediunidade (FEB),
pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, define animismo como sendo
"o conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a cooperação consciente
ou inconsciente dos médiuns em ação".
Já Richard Simonetti, em seu livro Mediunidade - Tudo o que
você precisa saber (Ed. CEAC), diz que animismo "na prática mediúnica, é
algo da alma do próprio médium, interferindo no intercâmbio".
Ramatís, no livro Mediunismo (Ed. do Conhecimento), pela
psicografia de Hercílio Maes, diz que "animismo, conforme explica o
dicionário do vosso mundo, é o sistema fisiológico que considera a alma como a
causa primária de todos os fatos intelectivos e vitais".
"O fenômeno anímico, portanto, na esfera de atividades
espíritas, significa a intervenção da própria personalidade do médium nas
comunicações dos Espíritos desencarnados, quando ele impõe algo de si mesmo à
conta de mensagens transmitidas do Além-Túmulo."
Partindo de definições como estas, o termo passou a ser
usado de forma negativa e pejorativa para tudo aquilo que fosse produzido por
um médium, mas que não tivesse qualquer contribuição ou participação de
espíritos desencarnados. Com essa definição, o animismo passou a ser o pesadelo
de todos os médiuns, especialmente os iniciantes, por ser usado como sinônimo
de mistificação e fraude.
No ENTANTO, MISTIFICAÇÃO é uma coisa completamente
diferente, caracterizada pela fraude consciente do médium e a simulação
premeditada do fenômeno mediúnico, com intenção de enganar os outros.
Médium mistificador, portanto, é aquele que finge,
premeditada e conscientemente, estar em transe mediúnico, recebendo comunicação
de Espíritos desencarnados, quando, na verdade, está apenas inventando a
mensagem para impressionar ou agradar as pessoas à sua volta.
A atuação anímica do médium, por sua vez, acontece de forma
quase sempre inconsciente, de modo que o próprio médium dificilmente consegue
perceber a sua própria interferência ou participação no fenômeno que manifesta,
não conseguindo separar o que é seu do que é criação mental do comunicante,
mesmo quando o fenômeno, em si, é consciente.
É o que nos diz Hermínio C.Miranda, em seu livro Diversidade
dos Carismas (Publicações Lachâtre), quando afirma que "o fenômeno
fraudulento nada tem a ver com animismo, mesmo quando inconsciente. Não é o
espírito do médium que o está produzindo através de seu corpo mediunizado, para
usar uma expressão dos próprios espíritos, mas o médium, como ser encarnado,
como pessoa humana, que não está sendo honesto, nem com os assistentes, nem
consigo mesmo. O médium que produz uma página por psicografia automática, com
os recursos do seu próprio inconsciente, não está, necessariamente, fraudando
e, sim, gerando um fenômeno anímico. É seu espírito que se manifesta. Só estará
sendo desonesto e fraudando se desejar fazer passar sua comunicação por outra,
acrescentando-lhe uma assinatura que não for a sua ou atribuindo-a,
deliberadamente, a algum espírito desencarnado." (grifo nosso).
PORTANTO, O ANIMISMO NÃO É DEFEITO MEDIÚNICO e nem deve ser
tratado como distúrbio ou desequilíbrio da mediunidade ou do médium. Na
verdade, como parte dos fenômenos psíquicos humanos, ele deve ser considerado
também parte do fenômeno mediúnico, já que, como diz Richard Simonetti no livro
já citado, "o médium não é um telefone. Ele capta o fluxo mental da
entidade e o transmite, utilizando-se de seus próprios recursos" (grifo
nosso).
"Se o animismo faz parte do processo mediúnico, sempre
haverá um porcentual a ser con¬siderado, não fixo, mas variável, envolvendo o
grau de desenvolvimento do médium."
Hermínio Miranda, no livro já citado, diz que, "em
verdade, não há fenômeno espírita puro" (grifo nosso), de vez que a
manifestação de seres desencarnados, em nosso contexto terreno, precisa do
médium encarnado, ou seja, precisa do veículo das faculdades da alma (espírito
encarnado) e, portanto, anímicas".
Interessante também vermos algumas anotações de Kardec
referentes a instruções dos espíritos, em O Livro dos Médiuns:
"A alma do médium pode comunicar-se como qualquer
outra".
"O Espírito do médium é o intérprete, porque está
ligado ao corpo que serve para a comunicação e porque é necessária essa cadeia
entre vós e os Espíritos comunicantes, como é necessário um fio elétrico para
transmitir uma notícia à distância, e, na ponta do fio, uma pessoa inteligente
que a receba e comunique".
Seja o médium consciente ou inconsciente, intuitivo ou
mecânico, dele sempre depende a transmissão e sua pureza".
QUANDO KARDEC, AINDA NO mesmo livro, pergunta se "o
Espírito do médium não é jamais completamente passivo", os Espíritos lhe
respondem dizendo que "ele é passivo quando não mistura suas próprias
idéias com as do Espírito comunicante,mas nunca se anula por completo. Seu
concurso é indispensável como intermediário, mesmo quando se trata dos chamados
médiuns mecânicos".
Hermínio Miranda, citando ensinamento dos Espíritos no livro
de Kardec, diz ainda que "assim como o espírito manifestante precisa
utilizar-se de certa parcela de energia, que vai colher no médium, para
movimentar um objeto, também para uma comunicação inteligente ele precisa de um
intermediário inteligente", ou seja, do Espírito do próprio médium.
"O bom médium, portanto, é aquele que transmite, tão
fielmente quanto possível, o pensamento do comunicante, interferindo o mínimo
que possa no que este tem a dizer".
"Reiteramos, portanto, que não há fenômeno mediúnico
sem participação anímica (grifo nosso). O cuidado que se torna necessário ter
na dinâmica do fenômeno não é colocar o médium sob suspeita de animismo, como
se o animismo fosse um estigma, e, sim, ajudá-lo a ser um instrumento fiel,
traduzindo, em palavras adequadas, o pensamento que lhe está sendo transmitido
sem palavras pelos espíritos comunicantes".
Também em O Livro dos Médiuns, quando Kardec pergunta aos
Espíritos se "o Espírito do médium influi nas comunicações de outros
Espíritos que ele deve transmitir", recebe a seguinte resposta:
"Sim, pois se não há afinidade entre eles, o Espírito
do médium pode alterar as respostas, adaptando-as às suas próprias idéias e às
suas tendências".
Em seguida, Kardec lhes pergunta se "é essa a causa da
preferência dos Espíritos por certos médiuns", ao que os Espíritos
respondem:
"Não existe outro motivo. Procuram intérprete que
melhor simpatize com eles e transmita com maior exatidão o seu
pensamento".
PORTANTO,VEMOS QUE,mais do que parte integrante, o animismo
é, até certo ponto, condição necessária para o fenômeno mediúnico, garantindo a
sintonia adequada para que a transmissão seja a mais fiel possível às idéias do
comunicante. Sem o conteúdo do médium, é muito mais difícil para o Espírito
transmitir-lhe suas idéias e o que pretende com elas. De posse do conteúdo
mental e até emocional do médium, no entanto, toma-se muito mais fácil para o
Espírito se fazer entender, podendo assim transmitir com mais naturalidade e
desenvoltura o seu raciocínio.
No livro Mediunismo, Ramatis nos diz que "mesmo na vida
física é necessário ajustar-se cada profissional à tarefa ou responsabilidade
que favoreça o melhor êxito ou eficiência para alcance dos objetivos em
foco".
"Da mesma forma, o espírito do médico desencarnado
logrará mais êxito, ao se comunicar com o mundo material, se dispuser de um
médium que também seja médico".
"Quando o médium e o espírito manifestante afinizam-se
pelos mesmos laços intelectivos e morais, ou coincide semelhança profissional,
as comunicações mediúnicas tomam-se flexíveis, eloqüentes e nítidas".
"Os espíritos não se preocupam em eliminar radicalmente
o animismo nas comunicações espíritas, porque o seu escopo principal é o de
orientar os médiuns, aos poucos, para as maiores aquisições espirituais, morais
e intelectivas, a ponto de poderem endossar-lhes, depois, as comunicações
anímicas, como se fossem de autoria dos desencarnados".
Notamos, assim, que a preocupação com o animismo é muito
mais de médiuns e dirigentes do que dos Espíritos que se comunicam nas reuniões
mediúnicas.
MEDIUNIDADE CONSCIENTE é aquela em que o médium, como o
próprio nome diz, permanece consciente durante todo o transe, registrando a
mensagem e quase tudo o que se passa à sua volta durante a comunicação, e
participando ativa e conscientemente do fenômeno, imprimindo à mensagem muito
de suas características pessoais. Nesse caso, a comunicação se faz mente a
mente, telepática e/ou energeticamente, sem o desdobramento do médium. Mais de
70% dos médiuns apresentam esse tipo de fenômeno.
Mediunidade
inconsciente é aquela em que, ao contrário da anterior, o médium, a
partir da ligação com o Espírito comunicante, fica inconsciente, incapaz de
registrar qualquer parte da mensagem ou mesmo de qualquer coisa que ocorra à
sua volta durante o transe. Nesse caso, o médium é totalmente afastado de seu
corpo físico, permanecendo projetado durante a comunicação, e o Espírito assume
o comando do órgão físico correspondente ao tipo de mensagem (psicografia
braço e mão: psicofonia garganta; ectoplasmia cérebro) a ser
transmitido, sem que o conteúdo da mensagem passe por sua mente.
Entre as duas, poderíamos citar a medi unidade
semiconsciente, que é aquela em que o médium percebe o que se passa à sua
volta, mas não é capaz de registrar completamente todos os detalhes, nem mesmo
da mensagem que está transmitindo. Nesse caso, o médium é afastado parcialmente
de seu corpo físico e o comunicante se coloca entre este e o seu perispírito,
ligando-se tanto com a sua mente, como com o órgão físico correspondente ao
tipo de mensagem, atuando duplamente.
Importante notar que fenômeno mediúnico consciente não é o
mesmo que fenômeno anímico.
No FENÔMENO CONSCIENTE, a mensagem não é do médium, embora
ele esteja consciente de todo o processo e participe do fenômeno que ocorre com
ele, sem interferir no seu conteúdo, sem deturpar a idéia central da mesma. O
estilo, o vocabulário, a forma e o tom da mensagem são seus, mas o tema, a
idéia, a essência e o conteúdo são da entidade.
Por esse motivo, médiuns conscientes costumam transmitir
mensagens muito parecidas em termos de estilo e forma, porque é mais ou menos
como se recebessem dos mentores um tema e alguns tópicos para redação e
coubesse a eles desenvolvê-los, com seu jeito e palavras.
Já no fenômeno anímico, é o Espírito do próprio médium que
se comunica e dá a mensagem através de seu próprio corpo em transe, na maioria
das vezes sem que ele tenha consciência de que é ele mesmo que está passando a
mensagem, mesmo que esteja consciente do fenômeno, e durante o fenômeno. Ou
seja, ele pode até estar consciente de tudo, mas não tem consciência de que é
ele mesmo que está se comunicando e transmitindo uma mensagem. Ele pode
acompanhar o desenrolar da comunicação, mas não sabe que o comunicante é ele
mesmo, ou uma porção inconsciente de sua própria consciência ou Espírito.
Importante ressaltar também que é possível a Espíritos
encarnados afastar-se de seu corpo físico, em desdobramento ou projeção, e se
manifestar por intermédio de outros encarnados que sejam médiuns, sem que, no
entanto, esse seja um fenômeno anímico. Na verdade, esse é um fenômeno
mediúnico entre encarnados (ou entre vivos, como, incorretamente, se
convencionou chamar, já que vivos somos todos, encarnados e desencarnados), pois
se caracteriza pela interação espiritual de duas consciências encarnadas
diferentes.
Se, como diz Hermínio C.Miranda, não há fenômeno mediúnico
sem participação anímica, é importante que o médium se conscientize da
necessidade e da importância do estudo sistemático e da prática constante, como
meios de garantir uma participação anímica de melhor nível nas comunicações
mediúnicas que se fazem por seu intermédio.
Quanto mais conhecimento técnico e teórico tiver o médium,
mais fácil será para mentores e amparadores encontrarem, em seus arquivos
mentais, material em sintonia com as mensagens a serem transmitidas.
Da mesma forma, quanto mais prática, quanto mais vivência
mediúnica e espiritual tiver o médium, mais fácil será para ele mesmo
compreender o sentido do que lhe é transmitido, podendo repassar com mais
segurança e desenvoltura as idéias que recebe mentalmente.
PES – PODERES
EXTRA-SENSORIAIS:
SENDO O ANIMISMO A interferência, participação ou mesmo
manifestação do Espírito do próprio médium no fenômeno, vamos notar que
determinadas capacidades psíquicas, classificadas como mediúnicas, são na
verdade anímicas, por serem capacidades inerentes ao próprio ser humano, pois
não dependem da interferência ou ação de mentes externas, encamadas ou
desencarnadas, para se manifestarem.
Vejamos alguns desses casos:
Clarividência, incluindo a precognição, a retrocognição e a
visão à distância, que são tipos de clarividência;
Telepatia que, embora precise de outra mente para se
caracterizar, é anímica, funcionando como interação entre receptor e emissor;
Psicometria, que poderia ser considerada também um tipo de
clarividência, já que se trata da visualização de fatos e cenas, geralmente
passados, relacionados a objetos;
Clariaudiência: Capacidade de ouvir sons, vozes
extrafísicos.
Clariolfatismo: Capacidade de sentir odores extrafísicos.
Transmissão de energias, seja por que técnica ou método for,
desde o passe comum até bênçãos, etc.
Desdobramento ou desprendimento astral, mesmo os ocorridos
durante trabalhos mediúnicos ou os provocados mediunicamente, ou seja, por
Espíritos desencarnados.
Acontece que, muitas vezes, essas capacidades são
despertadas ou desenvolvidas com a ajuda direta de Espíritos desencarnados,
dando a impressão de serem mediúnicas. Nesse caso, a capacidade é anímica, pois
é da pessoa e poderia se manifestar sem o auxílio de Espíritos, mas a sua
manifestação é mediúnica, pois só acontece quando entidades desencarnadas
atuam, com energias e fluidos, sobre os comandos que a controlam.
Acontece também de, muitas vezes, os Espíritos desencarnados
se comunicarem com as pessoas por meio dessas capacidades anímicas, dando
também a impressão de serem mediúnicas. Nesse caso, a capacidade é anímica,
pois existe independentemente da presença dos desencarnados, mas o uso é
mediúnico, já que é utilizada para a comunicação ou a transmissão de mensagens
de Espíritos desencarnados para os encarnados.
Fonte: Revista Especial de Mediunidade - Ciências e
Espiritismo
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