Mãe Stella, quando fala aos seus filhos, sobretudo na ocasião do jogo do começo do ano, alerta as pessoas para falar menos e tentar servir e ouvir o orixá de coração aberto.
Tomamos um pensamento da ialorixá Valnizia Pereira, do terreiro do Cobre, no Engenho Velho da Federação (Harding, 2000: 147): ela interpretou o trabalho que antecede a festa pública de candomblé como uma memória incorporada do trabalho feito pelos escravos no Brasil, enfatizando que esse é um tipo de comunicação com os ancestrais, uma continuação do processo através do qual o axé foi cultivado e transmitidos no Novo Mundo.
Temos a impressão, então, de que o trabalho braçal feito pelas filhas e filhos-de-santo na preparação das festas seja uma homenagem aos ancestrais, mas também um modo para afastar os pensamentos do cotidiano, para se liberar das tristezas e se preparar para o orixá. Nesse sentido, lembramos as palavras de uma sacerdotisa de Oiá, ebômi Sandra, que durante uma conversa no terreiro nos relatou sua interpretação sobre o trabalho para a festa: “Os escravos eram tratados mal, vocês sabem, então toda a depressão, o medo e o sofrimento podiam sair fora só através do trabalho duro. Eu mesma, quando acordo ás três, quatro horas da manhã com aquela sensação de coração apertado, levanto e preparo a comida para o dia, ou passo roupa, não fico me deprimindo mais”
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