Em 1830, algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui, no Brasil.Segundo documentos históricos da época, esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Bercô; hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador – Estado da Bahia.
Desta reunião, que era formada por várias mulheres, como foi relatado anteriormente, uma mulher ajudada por Baba-Asiká, um ilustre africano da época, se destacou:
- Íyànàssó Kalá ou Oká, cujo o òrúnkó no orixá era Íyàmagbó-Olódùmarè.
Mas, o motivo principal desta reunião era estabelecer um culto africanista no Brasil, pois viram essas mulheres, que se alguma coisa não fosse feita aos seus irmãos negros e descendentes, nada teriam para preservar o “culto de orixá”, já que os negros que aqui chegavam eram batizados na Igreja Católica e obrigados a praticarem assim a religião católica.
Porém, como praticar um culto de origem tribal, numa terra distante de sua ìyá ìlú àiyé èmí, ou a mãe pátria terra da vida, como era chamada a África, pelos antigos africanos?
Primeiro, tentaram fazer uma fusão de várias mitologias, dogmas e liturgias africanas. Este culto, no Brasil, teria que ser similar ao culto praticado na África, em que o principal quesito para se ingressar em seus mistérios seria a iniciação. Enquanto na África a iniciação é feita muitas vezes em plena floresta, no Brasil foi estabelecida uma mini-África, ou seja, a casa de culto teria todos os orixás africanos juntos. Ao contrário da África, onde cada orixá está ligado a uma aldeia, ou cidade; por exemplo: Xangô em Oyó, Oxum em Ijexá e Ijebu e assim por diante.
Mas, por que esse culto foi denominado de Candomblé?
Este culto da forma como é aqui praticado e chamado de Candomblé, não existe na África. O que existe lá é o que se chama de culto ao orixá, ou seja, cada região africana cultua um orixá e só inicia elegun ou pessoa daquele orixá. Portanto, a palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos, para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil. Por esse motivo, antigos Babalorixás e Yalorixás evitavam chamar o “culto dos orixás” de Candomblé. Eles não queriam com isso serem confundidos com estas festas. Mas, com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas.
A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de “Candonbé”, um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de “Candonbidé”, que quer dizer “ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa”.
Como forma complementar de culto, a palavra Candomblé passou a definir o modelo de cada tribo ou região africana, conforme a seguir:
A palavra “Nação” entra aí não para definir uma nação política, pois Nação Jeje não existia em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o Candomblé formado pelos povos vindos da região do Dahomé e formado pelos povos Mahin.
Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokutá, Ijexá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu.
Ketu era uma cidade igual as demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu.
Esses yorubás, quando guerrearam com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil.
Quando os yorubás chegaram naquela região sofridos e maltratados, foram chamados pelos fons de ànagô, que quer dizer na língua fon, “piolhentos, sujos” entre outras coisas. A palavra com o tempo se modificou e ficou nàgó e passou a ser aceita pelos povos yorubás no Brasil, para definir as suas origens e uma forma de culto. Na verdade, não existe nenhuma nação política denominada nagô.
No Brasil, a palavra nàgó passou a denominar os Candomblés também de Xamba da região norte, mais conhecido como Xangô do Nordeste.
Os Candomblés da Bahia e do Rio de Janeiro passaram a ser chamados de Nação Ketu com raízes yorubás.
Porém, existem variações de Nações, por exemplo, Candomblé da Nação Efan e Candomblé da Nação Ijexá. Efan é uma cidade da região de Ijexá próxima a Osobô e ao rio Oxum. Ijexá não é uma nação política. Ijexá é o nome dado às pessoas que nascem ou vivem na região de Ilexá.
O que caracteriza a Nação Ijexá no Brasil é a posição que desfruta Oxum como a rainha dessa nação.
Da mesma forma como existe uma variação no Ketu, há também no Jeje, como por exemplo, Jeje Mahin. Mahin era uma tribo que existia próximo à cidade de Ketu.
Os Candomblés da Nação Angola e Congo foram desenvolvidos no Brasil com a chegada desses africanos vindos de Angola e Congo.
A partir de Maria Neném e depois os Candomblés de Mansu Bunduquemqué do falecido Bernardino Bate-folha e Bam Dan Guaíne muitas formas surgiram seguindo tradições de cidades como Casanje, Munjolo, Cabinda, Muxicongo e outras.
Nesse estudo sobre Nações de Candomblé, poderia relatar sobre outras formas de Candomblé, como por exemplo, Nagô-vodun que é uma fusão de costumes yorubás e Jeje, e o Alaketu de sua atual dirigente Olga de Alaketu.
O Alaketu não é uma nação específica, mas sim uma Nação yorubá com a origem na mesma região de Ketu, cuja história no Brasil soma-se mais de 350 (trezentos e cinqüenta) anos ao tempo dos ancestrais da casa: Otampé, Ojaró e Odé Akobí.
A verdade é que o culto nigeriano de orixá, chamado de Candomblé no Brasil, foi organizado por mulheres para mulheres. Antigamente, nas primeiras casas de Candomblé, os homens não entravam na roda de dança para os orixás. Mesmo os que tornavam-se Babalorixás tinham uma conduta diferente quanto a roda de dança. Desta forma, a participação dos homens era puramente circunstancial. Daí ter-se que se inserir no culto vários cargos para homens, como por exemplo, os cargos de ogans.
Hoje, a palavra Candomblé define no Brasil o que chamamos de culto afro-brasileiro, ou seja: “Uma Cultura Africana em Solo Brasileiro”.
O livro "Mural dos Orixás" de Caribé e texto de Jorge Amado - Raízes Artes Gráficas)
Os Ibejis, os mabaças, os gêmeos, Cosme e Damião, os santos meninos. Donos de grande devoção na Bahia. Os carurus de Cosme e Damião são célebres. Qual a casa verdadeiramente baiana que não oferece seu caruru anual aos Ibejis?
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São duas divindades gêmeas, sendo costumeiramente sincretizadas aos santos gêmeos católicos Cosme e Damião. Ao contrário dos erês, entidades infantis ligadas a todos os orixás e seres humanos, são divindades infantis, orixás-crianças. Por serem gêmeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas, etc. Seus filhos são pessoas com temperamento infantil, jovialmente inconsequente; nunca deixam de ter dentro de si a criança que já foram. Costumam ser brincalhonas, sorridentes, irrequietas - tudo, enfim, que se possa associar ao comportamento típico infantil. Muito dependentes nos relacionamentos amorosos e emocionais em geral, podem então revelar-se teimosamente obstinadas e possessivas. Ao mesmo tempo, sua leveza perante a vida se revela no seu eterno rosto de criança e no seu modo ágil de se movimentar, sua dificuldade em permanecer muito tempo sentado, extravasando energia. Podem apresentar bruscas variações de temperamento, e certa tendência a simplificar as coisas, especialmente em termos emocionais, reduzindo, à vezes, o comportamento complexo das pessoas que estão em torno de si a princípios simplistas como "gosta de mim - não gosta de mim". Isso pode fazer com que se magoem e se decepcionem com certa facilidade.
Ao mesmo tempo, suas tristezas e sofrimentos tendem a desaparecer com facilidade, sem deixar grandes marcas. Como as crianças em geral, gostam de estar no meio de muita gente, das atividades esportivas, sociais e das festas. A grande cerimônia dedicada a estes orixás acontece a 27 de setembro, dia de Come e Damião, quando comidas como caruru, vatapá, bolinhos, doces, balas (associadas às crianças, portanto) são oferecidas tanto aos orixás como aos frequentadores dos terreiros.
Pergunto-me sempre que vejo algo que me decepciona.
Para mim toda religião é perfeita em suas doutrinas, o que as estraga são seus sacerdotes, representantes, seguidores que seja.
Não importando se é no espiritismo, na católica ou evangélica entre tantas outras. Em algumas que conheço existem doutrinas porém todas chegam a um único ponto em comum um deus supremo, que pode ser conhecido com Alá, Jeová, Olodumare, ou simplesmente Deus. E a um único fundamento no qual acredito que é essencial para qualquer uma delas que é o amor. Sim o amor, tudo que amamos nós acreditamos e assim geramos a fé. Então eu pergunto você tem fé? Você realmente encontrou “Deus” no caminho que escolheu?
Olho certos sacerdotes de minha própria religião, e me dá muita tristeza com suas condutas reprováveis. Quando se assume um compromisso sacerdotal você se torna um espelho e reflete tudo aquilo que se propôs fazer na vida. Se decidiu fazer o bem irá refletir o bem e vice versa, se decidiu olhar apenas para você o mundo ficará pequeno demais, e se afogará em si próprio. A religião nada mais é do que uma oportunidade de conviver com você mesmo e com os outros de uma maneira mais fácil. É ter acesso a uma comunidade que tem um objetivo em comum, a de se ajudar e ajudar o próximo, para que possamos viver com mais equilíbrio, pois a falta de equilíbrio é a doença no corpo e na alma como no mundo.
O mundo precisa de mais amor, de mais fé, precisa de Deus, Deus nos corações dos homens. A esses que já encontraram Deus cabe apenas passa-lo, ensina-lo para aquele que não o conhece. Sem julgar, pois Deus não descrimina. Quantos sacerdotes já viram um milagre? Para aqueles que viram um. Quantas pessoas já tentou ajudar e não deu certo? Milagre para mim é ver pessoas que aprendemos a amar com saúde, com equilíbrio, seguindo em uma vida digna. Que com toda essa correria do mundo de hoje está difícil parar e olhar ao redor, imagine ajudar o próximo? Melhor dizer contribuir para que um milagre aconteça... Milagre em nossas vidas são superações. Só nós sabemos o quão é difícil superar nossas dificuldades... Então uma palavra amiga de união e de sabedoria pode sempre ajudar a quem precisa. Nós sacerdotes temos a obrigação de ensinar esse caminho para aqueles que não encontraram Deus, pois com isso todos nós desenvolveremos mais amor, e passaremos para outros o Deus que encontramos...
Não está na Bíblia algo que justifique a inquisição ou seus ditos “Sacerdotes pedófilos”, ou no Alcorão que justifique os atentados terroristas vistos pelo mundo, como no espiritismo que tem um mancha com sua fama de “macumbas” só para fazer o mal, entre outras. Não é bem assim, sempre tem um sacerdote com uma influencia em seus seguidores o famoso EXEMPLO que ao em vez de lhe ensinarem a interpretação do amor, da paz para um crescimento, se utilizam da fé alheia para extorquirem, manipular, usufruírem do beneficio que poderiam proporcionar, transformando cada dia a religião que representam em uma imundice, manchando-a com dinheiro, sangue, traumas.... Eu tenho certeza que Deus não tem nada haver com isso... Isso é o homem.
Então para todos os Sacerdotes, os novos, os velhos, os com pouco ou muito conhecimento, mais para aqueles que encontraram verdadeiramente Deus em seu caminho, vamos lutar para preservar a nossa religião sem sugeria, vamos colaborar sendo sacerdotes dignos, exemplares, esse é o mínimo que poderemos fazer. “ Deus é amor! E o amor que ele nos ensina é o amor próprio e ao próximo, assim constituindo uma corrente onde escolhemos que tipo de elo queremos ser.”
Agradecemos a todos os que colaboraram para que o Olubajé saísse no dia 21.08.10.O Olubajé foi lindo, a beleza ainda está nos corações alegres a quem Obaluaye abençoou com sua presença e com sua mesa. Que possamos está cada vez mais unidos, para que saia cada vez melhor onde em cada candomblé que o Ilê Asé Igi Omo Alaketú por na sala seja contaminado pela união e o amor dos ali presentes.Que Obaluaye abençoe a nós todos!
A trepadeira da palmeira maltrata Não é (parasita)
Ori mi mi mi ò fum Serere
Meu Orí faca pra mim o Bem
Ou seja: “Aquilo que nós fazemos, é em nosso próprio benefício. Aqueles que fazem o mal se arrependam. Que as pessoas aproveitem o conhecimento em função de coisas boas. Aqueles que parasitam, não destruam a fonte da sabedoria.”
Mãe Stella, quando fala aos seus filhos, sobretudo na ocasião do jogo do começo do ano, alerta as pessoas para falar menos e tentar servir e ouvir o orixá de coração aberto.
Tomamos um pensamento da ialorixá Valnizia Pereira, do terreiro do Cobre, no Engenho Velho da Federação (Harding, 2000: 147): ela interpretou o trabalho que antecede a festa pública de candomblé como uma memória incorporada do trabalho feito pelos escravos no Brasil, enfatizando que esse é um tipo de comunicação com os ancestrais, uma continuação do processo através do qual o axé foi cultivado e transmitidos no Novo Mundo.
Temos a impressão, então, de que o trabalho braçal feito pelas filhas e filhos-de-santo na preparação das festas seja uma homenagem aos ancestrais, mas também um modo para afastar os pensamentos do cotidiano, para se liberar das tristezas e se preparar para o orixá. Nesse sentido, lembramos as palavras de uma sacerdotisa de Oiá, ebômi Sandra, que durante uma conversa no terreiro nos relatou sua interpretação sobre o trabalho para a festa: “Os escravos eram tratados mal, vocês sabem, então toda a depressão, o medo e o sofrimento podiam sair fora só através do trabalho duro. Eu mesma, quando acordo ás três, quatro horas da manhã com aquela sensação de coração apertado, levanto e preparo a comida para o dia, ou passo roupa, não fico me deprimindo mais”
“Existe sempre o positivo e o negativo numa situação. O bem e o mal são amigos. É a gente que tem que relacionar os dois.”
Não há situações completamente negativas nem completamente positivas, e, se um dos
dois aspectos prevalece, significa que há algo de errado e que o equilíbrio deve ser alcançado outra vez, sabendo-se de antemão, porém, que a vida é uma alternância de momentos e cabe ao ser humano se equilibrar.
Fragmentos deTextos extraído do livro de José Flávio Pessoa de Barros
Festa de Olubajé no terreiro de Yaloshundê no Rio de Janeiro
O ritmo da Avamunha reúne a todos. ê na mesma ordem da sequência anterior que os dançarinos, em número de vinte e um, dirigem-se a esse novo lugar, no exterior. Sobre as cabeças, os alguidares, cheio de iguarias , visto que o Olubajéé uma grande produção, distribuição e consumo do que se alimentam os orixás.
Diante do cortejo, Yaloshundê. Atrás dela, uma filha de Oyá carrega algumas esteiras. Logo a seguir, uma outra traz, na louça de barro as folhas de “ ewe-lará”. Uma terceira filha sustenta em sua cabeça um pote de argila contendo o “ aluá “ , a bebida sagrada. Vinte e um tipos de comida geralmente são oferecidos, sete no mínimo.
Um novo cântico de ritmo lento começa a ser ouvido. Ele marca o início do grande banquete do rei e vai se prolongar por muito tempo até o seu final.
“ Aráayé a je nbo , Olúbàje a je nbo
Aráayé a je nbo , Olúbàje a je nbo”
Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor aceitou comer.
Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor aceitou comer.
As esteiras são desenroladas e sobre elas é colocado um tecido branco e imaculado. Um após outro, os alguidares e potes são colocados sobre a toalha e formam sobre o chão a grande mesa .
Yaloshundê incumbe a três dos mais velhos iniciados a servir, sobre as folhas de mamona, utilizados como pratos, um pouco de cada alimento contido nos recipientes. Ela mesma se encarrega de oferecer os primeiros aos convidados mais importantes, aconselhando a todos a não ficarem imóveis, mas a dançar ou se mover sem parar e comer com as maõs.
A música continua. Ao lado e a um canto da “mesa” uma grande bacia esta preparada para receber os restos que devem ali ser depositados. As folhas que servem de prato devem ser fechadas, juntamente com os restos de comida não consumidos, e passadas ao longo do corpo, as mãos não devem ser lavadas…elas serão limpas ao serem esfregadas nos braços, pernas ou cabeça para que o Axé se impregne na pele.
Yaloshundê , assegurando-se de que cada um foi servido, dirige-se até um convidado de grande importância de outra comunidade, exortando-o a cantar as preces de Obaluaiê.
È é é ajeniníiyá, ajeniníiyá
Àgò ajeniníiyá
Máà kà lo, ajeniníiyá,
Ajínsùn aráaye, ó ló ìjeniníiyá
E wa ká ló
Sápadà aráaye, ló ìjeniníiyá,
E wa ká ló
Ìjeniníiyá aráaye
A vós punidor, te pedimos licença, não nos leve embora.
Ele pode castigar e levar-nos embora,
mandar-nos embora de volta para o outro mundo( outro, o dos mortos).
Pode castigar e levar-nos embora, castigar nos humanos.
Todos se ajoelham e um cântico em solo é ouvido de forma melodiosa e respondido pela audiência três vezes.Fora a voz humana, somente o Agogô, marca os intervalos entre cada estrofe.
A prece continua…..
Opeèré má dó péré
Ó bèré ké se
Má dó há, má dó pèré
Opeèré má dó péré
Ó bèré ké se
Má dó há, má dó pèré
Don hòn há ,
Don hòn há é à , Empé
Don hòn há
Opèré má dó péré
Dó sú, màá dó é
Dó sú, màá dó , Dó sú, màá dó
Dó sú, màá má n’gbé
Ayò kégbe hún hún
Ayò kégbe hún hún
Opere(Pássaro) não ficará só
Ele começará a gritar
Partilhara sua comida,não ficará só
Somente Operé não ficara só.
Ele proclamará a todos.,
Ele ficará e gritará, e não ficará só.
Os de Empé usarão barreiras contra feitiços
se tornarão visíveis
e dividirão a sua comida
Don hòn há é à , Empé
Operé não ficará só
ficará cansado, ficará bem
ficará cansado e será ajudado
Contende gritara, sim , sim
……. Todos batem palmas pausadamente – paó – saudando Obaluaiê.
com voz forte e cheia de entusiasmo, esta frase melodiosa ecoa. O conjunto dos participantes se levantan e cantan:
Omolú Kíí bèrú já
Kòlòbó se a je nbo
Kòlòbó se a je nbo
Kòlòbó se a je nbo
Aráayé.
Omolu não teme a briga.
Em sua pequena cabaça traz axé e feitiço
Vamos comer cultuando-o
Omolu não teme a briga
Em sua pequena cabaça traz axé e feitiço.
Vamos comer cultuando-o, todos juntos.
Dançam em volta da mesa até que a música termine.Novamente a Avamunha se instala. Toda a louça, a toalha ,a esteira , a bacia com os restos são retirados do local e a antiga roda sai em fila indiana, portando os recipientes sobre os ombros, os quais serão depositados na casa de Obaluaiê e na manha seguinte serão despachados.
Yaloshundê anuncia em voz baixa e alguém trás um grande cesto de pipocas que é depositado aos seus pés.Com um gesto delicado ela toma um punhado de Doburus lançando sobre os convidados caindo como chuva.
Um novo intervalo permite que os atabaques retornem ao seus lugares de origem.
…. a dança do rei
O Adjarim quebra o silencio , Yaloshundêa frente do cortejo entoa um novocântico como súplica marcado ao tom doagogô.
Ágò n’ilé , n’ilé
N’ilé ma dàgó
Sápadà , A jí nsún ,
Ma dàgó
Ágò n’ilé ágò.
Permissão ( licença )
para entrar na casa.
licença Sapatá
Ajinsun, permissão
Para entrar na casa, licença.
A estrofe é repetida até que todo o cortejo esteja presente no interior do barracão.A cada vez, o nome litúrgico de Sapatá é substituído saudando: Ajinsun – Omolu – Onilé – Obaluaê – Jagun – Azuane e outros num total de 16.
Um solo surge respondido em uníssono pelo público com entusiasmo:
Ó gbélé ìko , sàlàrè Ele vive em casa de palha
Sálà rè lórí que é o seu alá, que cobre a sua cabeça
Ó gbélé ìko, Ó gbélé ìko vive em casa de palha
Sálà rè lórí o alá que cobre a sua cabeça.
Três golpes fortes no Run , fazem cessar a melodia de maneira abrupta; é o remate, que se ouve para que um outro canto possa se elevar:
Olórí ìjeníiyà a pàdé O Senhor que mata, o Senhor que castiga
Olorí pa vem ao nosso encontro.
Olórí ìjeníiyà a pàdé O Senhor que mata, o Senhor que castiga
Olorí pa vem ao nosso encontro.
O canto repetido varias vezes fala daquele que castiga e pune os infratores.
O refrão a seguir , fala da proteção àqueles que sabem bem receber :
Jó alé ijó , é Dance em nossa casa,
Jó alé ijó , é jó dance, dance , dance em nossa casa.
alé ijó , dando força e energia à nossa casa.
Àfaradà a lé Dançando ele dá proteção à casa.
Njó ó ngbèlé
Um quarto e quinto cânticos falam da tradição e da constante peregrinação do Rei conquistador. O povo de santo sempre fala dos respeito que se deve aos andarilhos, pobres e pedintes, dizendo que “ são os afilhados de Obaluaê ou até ele mesmo disfarçado” para observar os seus . E o último, dos campos daqueles que cultivam a terra, do lavrador que pede a Onilé fartura para seu povo
Àká ki fàbò wíwà Celeiro para onde retorna a existência,
Àká ki fàbò wíwà que possa você ter celeiro para onde
Wáá kalé , wáá retorna a existência, longa vida
Kalé sé awo orò para cultuar as tradições, e que
Wáá kalé , wáá possa você ter longa vida
Kalé sé awo oròpara culturar as tradições.
Ò kíní gbé fáárà farotì Ele é aquele que pode aproximar-se e dar apoio
Ò kíní gbé fáárà àfaradà aquele que pode dar força e energia
Oní pópó oníyè com sua proximidade. Senhor das estradas
Kíní ìyìyá wa ìfaradá e dos campos, Senhor da boa memória,
que pode nos dar força para resistirmos à dor.
Ò ní a ló ìjeníìyà Ele pode fazer secar a cabeça do homen,
Ajàgun tó ló levá-lo embora e
Ìjeníìyà olúwàié esculpir a cabeça do homem .
Táálá bé okùnrin Ele pode fazer definhar,
O táálá bé okùnrin matar a cabeça do homen.
Wa ki ló kun É o executor que decapita ,
Táálá bé okùnrin que pode nos castigar .
Abénilorí ìbé O guerreiro que pode castigar.
Rí ó ní je olúwàié O senhor da terra.
Táálá bé okùnrin O guerreiro que pode punir.
O cântico suplica ao Deus , cujo rosto oculto inspira temor e medo, porem todos sabem que padeceu enfermo, sofreu o flagelo do abandono e, por isso mesmo, ampara e protege os desafortunados.
Wúlò ní wulò Ele é importante e necessário
A nilè gbèlé ibé kò para nós da terra, dá proteção à casa
Wúlò ní wulò não permita que nossas cabeças tombem
A nilè gbèlé ibé kò ( pelas mãos do inimigo )
Aspecto punitivo do Orixá, é expresso em outra cantiga , assim como seu poder criador.
Omolú tó ló kum eron ènìòn Omolu é aquele que pode
E ló e ló e kum esculpir na carne das pessoas.
Omolú tó ló kum eron ènìòn Omolu é aquele que pode
E ló e ló e kum esculpir na carne das pessoas.
Omolú tó ló kum eron ènìòn Ele pode, ele pode e ele esculpe.
Omolú tó ló kum eron ènìòn Ele pode, ele pode e ele esculpe
Sábio-sacerdotes , diante de Onilé ( Senhor da terra ) se dizem pequenos: a modéstia , no entanto , é só aparência diante dos poderosos.
As cantigas falam disso…………
Onilè wà àwa lèsé òrisá O Senhor da terra está entre nós que cultuamos orixá.
Opé ire onílè wà a lèsé òrisá Opé ire Agradecemos felizes pelo Senhor da terra
E kòlòbó e kòlòbó sín sín sín estar entre nós que cultuamos orixá.
Kòlòbó Agradecemos felizes.
E kòlòbó e kòlòbó sín sín sín Em sua pequena cabaça traz remédios
Kòlòbó para livrar-nos das doenças
Omolú pè olóre a àwúre e Omolu te pedimos Senhor da boa sorte,
Kú àbó que use seus remédios ( sortilégios )
Omolú pè olóre a àwúre e para nos trazer boa sorte.
Kú àbó Seja bem-vindo!!!
Jé a npenpe e ló gbé wàiyé Senhor que tem boa memória e pode tornar-se inteligente.
Tó ní gbón mi pois eu sou insignificante ( pequenino )
Jé a npenpe É ele que pode dar proteção ao nosso mundo.
Omolú wàiyé ( Obalúwaiyé ) È ele que pode dar inteligência, eu sou pequenino
Tó ní gbón mi ó Rei, Senhor da terra, torne-me inteligente.
Um último canto precede o balé dos outros orixás presentes á festa. Em algumas casas de santo de tradição nagô, ele antecede o banquete. Os adeptos entram no barracão dançando.
Á frente do cortejo uma filha de Iansã tem sobre sua cabeça um balaio ornado com grandes laços.
Dentro um “ assentamento “ de Obaluaê recoberto de pipocas que são distribuídas aos presentes.
Em troca, quando podem oferecem pequenas quantias em dinheiro.
Kóró nló awo , kóró nló awo Ele vai embora,
sé ó gbèje embora da cerimônia,
Kóró nló awo , kóró nló awo embora do culto.
sé ó gbèje Ele aceitou comer.
Este canto anuncia que Onilé – Senhor da terra , aceitou as homenagens partilhando com todos , povo e Orixás,as oferendas.
a saudação dos convivas……
È hora da família mítica de Obaluaê. Vem dançar Oxumarê, seu irmão, o arco-íris; depois Nanã, a sua mãe; em seguida Iemanjá, sua mãe adotiva e finalmente Iansã, “ aquela que acalmou seu sofrimento na infância.
Oxumarê, que se encontrava sentado placidamente, ao ouvir os primeiros acordes do seu “Orô”. Isto é, da cantiga que fala de sua história. Curvando-se em uma saudação, todos ouvem seu assobio alto e melodioso, anunciando sua satisfação.
A dança compassada deixa que todos possam admirar as roupas do Deus – Serpente .
Òsùmàrè Ele está sobre a casa.
Wàlé lé mo rí , Òsùmàrè Eu vi , ele é imenso.
Lé´ lé mo rí ó , ràbàtà Ele está sobre a casa, é Oxumaré
Lé´ lé mo rí Oxumaré está sobre a casa
Òsùmàrè Eu vi Oxumaré.
Um novo cântico, no mesmo ritmo , se ouve…..O texto fala do ´´àkoró ´´, isto é , do Senhor do àkorô – espécie de chapéu ou turbante que usam os poderosos em suas apresentações.
Aláàkòró lé èmi ô
Aláàkòró lé ìwo O Senhor do àkoró esta sobre mim.
Aláàkòró lé èmi ô O Senhor do àkoró sobre você.
Aláàkòró lé ìwo
Òsùmàré ó ta kéré O Deus do arco-íris movimenta-se
Ta kéré ó ta kéré rapidamente.
Òsùmàré ó ta kéré Para diante, adiante , adiante.
Ta kéré ó ta kéré
O Orixá dança por mais alguns minutos e, curvando-se em todas as direções , saúda os quatro cantos do mundo e a todos os presentes, retirando-se em seguida.
Os acordes dos atabaques, reverenciam “ a mais velha das iabás’ , a venerável Nanã.
Yaloshundé dirige-se até ela, que placidamente aguardava seu momento de saudar Obaluaê.
E o cântico começa…….
Òdí Nàná ni ewà
Léwà lèwá e A outra face( outro lado ) de Nanã é bonita
Òdí Nàná ni ewà A outra face de Nanã é bonita
Léwà lèwá e
Os versos da música sacra dizem que a “ Venerável Anciã “ tem a outra face bela , deixando supor que existe uma que deve ser respeitada, pois Nanã está intimamente ligada ao culto dos “ egunguns “ , isto é , os espíritos dos ancestrais do povo-de-santo. A vinda do “ Ibirí “ – cetro daquela que é “ a mais velha das deusas” é providenciado.
Nàná ayò Nanã Olocó(aquela que tem poderes para chamar um parente morto)
Àwa ló bímon ayó alóko faça-nos felizes; nós poderemos tomar outra direção para termos a
Nàná ayò alegria do nascimento de filhos.
Àwa ló bímon ayó alóko Naná Olocó, faça-nos felizes.
Ò iyá wa òré
Ò ní aijalò Ela é nossa mãe e amiga;
Ò iyá wa òré Ela é a Senhora da alta sociedade.
Ò ní aijalòòde
Ao sons dos atabaques, majestosamente ela comprimenta a todos na sua despedida; os presentes respeitosamente a saúdam e reverenciam………..- Sálù bà Nàná….. Sálù bà Nàná ….
….. outra mãe está para chegar….
È a vez de Iemanjá , a quem se pede proteção, filhos saudáveis , parto tranquilo, beleza e prosperidade.
Suas vestes regiamente ricas em tons claros fazem dela uma das mais belas das Iabás.
Os cânticos falarão de seus atributos, os mesmos que seus adeptos em todos o Brasil desejam e suplicam á deusa das águas.
As quatro cantigas que se seguem falam disso:
Yemonja àwa Iemanjá protege-nos e nos enche de
Ààbò a yó satisfação.
Yemonja È Iemanjá , estamos protegidos ,
Àwa ààbò a yó e nossa satisfação é completa.
Ìyààgbà ó dé iré sé A velha mãe chegou fazendo-nos felizes, nos cumprimentamos Iemanjá.
A kíì e Yemonja A primeira que chamamos para abençoar nossa casa e dar satisfação.
A koko pè ilé gbè a ó yó Usar seu rio que escolhemos para nos banharmos,
Odò ó fi a sà pois o rio que escolhemos
Wè rè ó é o rio que usas para seu banho.
A sà wè lé ó Nós escolhemos nos banharmos
Odò fi ó em nossa casa.
A sà Wé lé ó Ela costuma escolher
A sà Wè lé ó banhar-se no seu rio.
Ìyá kòròba Mãe que enfeita os cabelos dividindo-os
Kòròba ní sàbá no meio da cabeça, ela tem o hábito de
Ìyá kòròba enfeitar os cabelos dividindo-os no meio
Kòròba ní sàbá da cabeça.
A dança de Iemanjá é solene e altiva. Ora parece um minueto, onde uma dama graciosa caminha, ora simula um mergulho em águas imaginárias e profundas.
Todos repetem suas saudações em tom alto de admiração:
= Odò Ìyá – ah!! A mãe dos rios !! = Èérú Ìyá - Mãe das espumas das águas !!
Ao cessar o toque dos atabaques ela despede-se de todos os presentes, curvando-se de maneira graciosa; e assim é ela mesma, sozinha que se dirige para o quarto – de – santo.
O silencio no barracão e interrompido, Oiá “ Senhora dos raios, das tempestades, mãe de todos os ancestrais-egunguns” está chegando.
Quando começam as cantigas de Oiá, um frenesi percorre o barracão e o ritmo rápido de suas músicas contagia a todos.
E assim começa seu grande bailado, numa coreografia com as mãos espalmadas para frente e para o alto evocando os ventos que antecedem as tempestades.
Oya balè e Láárí ó Oiá tocou a terra, ela é importante.
Oya balè Oiá tocou a terra
Oya balè e Láárí ó Oiá tocou a terra
Oya balè Ela é e alto valor, Oiá tocou a terra.
Àdá máà dé f´àrá Que sua espada não chegue até nós,
gè ngbélé e nem use seus raios para cortar a casa
Oya balè e Láárí ó onde vivemos.
Ó ní lábá-lábá - Ó lábá óEla ( Oiá ) é uma borboleta
Ó ní lábá-lábá - Ó lábá óela é uma borboleta.
Olúafééfé sorí Dona dos ventos que sopram sobre seus
Omon filhos.
Os textos da Deusa guerreira, falam que ela é a senhora dos ventos e alguns ate afirmam “ ela também é bela e delicada como uma borboleta” ….” quando quer “, …respondem outros.
= Epa He yi Oyá !! – Salve Oiá !!…a assistência exclama em voz alta, e novamente o silencio se faz.
…celebrando a criação
Vestido de branco , segurando um longo cajado e indiferente a toda agitação do barracão está
Oxalufâ - “ o Senhor da Criação “ .
Amparado, é delicadamente erguido de sua cadeira; a passos curtos e lentos é conduzido até a orquestra, que aguarda pacientemente sua caminhada até que chegue mais próximo, para então executar o seu ritmo Igbi.
Ao seu lado, Oxaguiã , seu filho guerreiro, e como ele, também “ Pai da Criação “.
Amparado pelo guerreiro, o mais velho encurvado começa a dançar, e todos exultam….
= Epa babá !! - Respeitos ao pai !! /// = Epa babá !! - Respeitos ao pai !!
Èyin rí àwa Vós vedes a nós e a crença em nossos corações.
ìgbàgbó wa okòn Vós vedes a nós e a crença em nossos corações.
Èyin rí àwa , ìgbàgbó wa okònFaçais com que haja concórdia em nossa reunião
Ètùtù sé ipadé siré de xirê ( dançar e brincar para orixás )
Kò rú lé, kò rú lé, Que não causeis confusão na casa,
Bàbá Ifá Pai Ifá.
E sìn sé ipàde siré Vos cultuaremos em nossas reunião de xirê,
Kò rú lé, kò rú lé, não causeis confusão em nossa casa,
Bàbá Ifá Pai Ifá.
Sem cessar a dança e no mesmo ritmo, é saudado, agora, Ajalá , o grande oleiro, construtor das cabeças dos homens:
Àjàlá mo rí mo rí mo yoAjalá fez o meu ori ( minha cabeça ),
Álá forí kòn me germinou e fez crescer,alá que segura
E àgó fi rí mie mantém a minha cabeça.
Bée orí kò kíì ÀjàláAssim não há ori ( cabeça ) que não saúde Ajalá.
Bàbá òkè kí a mò rèO Pai que está no topo, nós o conhecemos e saudamos.
Kíì Àjàlá bée orí kòAjalá , não há ori que não o faça.
Um último cântico é executado para saudar os orixás funfun – donos do branco, da “ pureza” como dizem outros, é em especial a homenagem a Oxaguiã, sempre louvado no alvorecer, nas preces feitas aos ancestrais.
Ojó mò tyìn odó aláyé ojóChefe do dia que entende o dia
Ojó bí walé ojó e tem pilão.
Ojó mò tyìn odó aláyé ojóO que nasce em nossa casa ,
A bo wa Bàbá ó vamos cultuar o nosso pai.
Uma história ouvida há alguns anos, na Casa Branca do Engenho Velho – Ilê Ia – Nassô , relata…..
“ Oguiã, que gostava muito de guerra…voltava para sua cidade, quando viu que ela estava muito vazia..soube então que parte de seu povo fora levado e escravizado…Cheio de raiva vai á floresta e arranca uma imensa árvore e vem sobre o seu tronco até o Brasil…No meio do mar encontra uma linda mulher, Iemanjá-Ogunté, guerreira como ele…fazem um filho – Ogunjá… e os três chegam à Bahia para lutar juntos por sua gente….”
Neste dia – o da festa – apesar das homenagens feitas a todos no xirê, dois Orixás estão ausentes:
Xangô – o irmão rival do homenageado.
Ogum, de quem o povo-de-santo diz ter com ele “ uma disputa” muito antiga com referencia a faca.