quarta-feira, 6 de julho de 2011

Textos de Pierre Verger


Cerimônias da África
As cerimônias celebradas para os orixás são acompanhadas de oferendas e sacrifícios. Geralmente, o orixá manifesta sua aceitação encarnando-se em um de seus elégùn. Veremos nos capítulos seguintes que as entradas em transe durante as cerimônias tomam características diferentes de acordo com o orixá festejado. Para Xangô, ela se realiza em épocas afastadas uma das outras e ele só se manifesta num dos seus muitos elégùn presentes, estando, porém todos suscetíveis de serem possuídos pelo deus. Esse transe, uma vez iniciado, é de longa duração (cinco, nove ou dezessete dias) e manifesta-se geralmente no momento do sacrifício de um carneiro.
O transe de Ogum, observados na região de Holi, realiza-se praticamente a cada quatro dia, isto é, a cada semana de ioruba, no dia que lhe é consagrado. O deus se manifesta em seu elégùn, sempre o mesmo, e durante um curto espaço de tempo, de vinte minutos à uma hora. O transe é provocado pelos ritmos dos tambores, após as oferendas e sacrifícios.
Todos esses deuses possuíam seus elégùn respectivos só ao ouvirem as chamadas ritmadas dos tambores, própria para cada um deles.
Naquele dia, viu-se ali uma série de elégùn fazer evoluções diante do templo de Ògún Edeyi, trazendo objetos simbólicos de seus deuses: Ògún, deus dos ferreiros e dos guerreiros, trazia dois sinos de ferro e um facão, Xàngó, o trovão, brandia seu machado de dois gumes; e sua esposa, Oya, divindade das tempestades, agitava um leque de couro; Odé, deus dos caçadores, trazia um facão e bastões de caça; Odùa-Òríxàálá, todo de branco, apoiava-se em um cajado de estanho, metal que lhe é consagrado.
Os elégùn faziam evoluções, dançavam, dialogavam e cada um deles comportava-se de maneira diferente, de acordo com as características de seu orixá. Eles se mantinham em atividade ao som dos ritmos dos tambores, exatamente como ocorre nas cerimônias para os mesmos orixás no Brasil ou em Cuba.
Terreiros de candomblé no Brasil
Na Bahia, no início do século, os terreiros dedicados ao culto dos orixás eram freqüentemente instalados longe do centro da cidade. Com o crescimento da população e a extensão tomada pelos novos bairros, eles progressivamente encontravam-se incluídos na zona urbana.
Esses terreiros são geralmente compostos de uma construção, denominado barracão, com grande sala para as danças e cerimoniais públicas, de uma série de casas, onde são instalados os pejís, consagrados aos diversos orixás, e de casas destinadas à residência das pessoas que fazem parte do candomblé.
A responsabilidade do culto repousa sobre o pai ou a mãe de santo, correspondentes aos nomes de origem ioruba, babalorixá ou ialorixá. São chamados também de zelador ou zeladora, termos equivalentes aos de babalaxé ou ialaxé, pai ou mãe encarregados de cuidar do axé, do poder do orixá.
Os pais ou as mães de santo são assistidos por pais ou mães pequenos, babá ou ia kekerê, e por toda uma série de ajudantes, com papeis e atividades diversos e definidos.
Assinalamos a ¨dagan¨, que, antes das cerimônias publicas, encarrega-se, com a ajuda de ¨iamorô¨, do ¨padê¨ ou despacho de Exú, do qual falaremos mais adiante; a ¨iatebexê¨, que assiste o pai ou a mãe de santo na direção da seqüência dos cânticos dos orixás, no decorrer das cerimônias públicas; a ¨iabassê¨, que supervisiona a preparação das comidas destinadas aos deuses e aos seres humanos; as ¨ekedis¨, que são encarregadas de cuidar dos iaôs logo que estes entram em transe; o ¨sarepebê¨, que leva as mensagens para a sociedade do terreiro. Encontramos anda o alabê, chefe dos tocadores de atabaques.
Certos dignitários chamados “ogãs” não têm funções religiosas especiais, mas ajudam materialmente o terreiro e contribuem para protegê-lo. Formam uma sociedade civil de ajuda mútua, colocada sob a invocação de um santo católico.
Alguns “ogãs” levam o título prestigioso de obá, no Terreiro Axé Opô Afonjá, e o título de “mangbá”, no Axé Opô Aganjú, como lembrança de acontecimentos que, na África, deram nascimento ao culto de Xangô. Existem enfim as “iaôs”, “mulheres” dos orixás, que são os filhos e as filhas de santo. Nos dias de cerimônia pública, chamada de xirê dos Orixás – a festa, a distração dos orixás -, o barracão é decorado com guirlandas de papel, nas cores do deus festejado, o chão é cuidadosamente varrido, salpicado de perfumadas folhas de pitanga, e grandes palmas atadas com fitas decoram as paredes.
O pai ou a mãe-de-santo, cercados por seus ajudantes, fica sentado próximo dos atabaques, que são colocados sobre um pequeno estrado enquadrado por palmas trançadas.
Os ogãs são instalados em cadeira ornamentadas e marcadas com seus nomes, onde só eles tem o direito de se sentarem; os visitantes importantes sentam em bancos e cadeiras e o resto do público fica dividido em dois grupos, homens de um lado e mulheres do outro, todos separados da parte central do barracão, onde dançam os filhos e filhas-de-santo.
Antigamente, o piso do barracão devia ser de terra batida, e os iaôs dançavam descalços a fim de que o contato com a terra e o mundo do além, onde residem os orixás, fosse mais direto. Por razões de prestígio, o piso do barracão é atualmente de cimento e, algumas vezes, recoberto com assoalho de madeira.
No início da festa, três atabaques de tamanhos diferentes, denominados run, rumpi e lê acompanhados por um sino de percussão, o agogô, tocam apelos ritmados às diversas divindades. Esses atabaques apresentam uma forma cônica e são feitos com uma única pele, fixada e esticada por um sistema de cravelhos para os nagôs e os gêges, e por cunhas de madeira para os tambores ngomas, de origem congolesa e angolana. Tais instrumentos foram batizados e, de vez em quando, é preciso manter sua força (o axé), por meio de oferendas e sacrifícios. Os atabaques desempenham um duplo papel, essencial nas cerimônias: o de chamar os orixás no início do ritual, e quando os transes de possessão se realizar, o de transmitir as mensagens dos deuses. Somente o “alabê” e seus auxiliares, que tiveram uma iniciação, tem o direito de tocá-los. Nos dias de festa, os atabaques são envolvidos por largas tiras de pano, nas cores do orixá invocado. Durante as cerimônias, eles saúdam, com um ritmo especial, a chegada dos membros mais importantes da seita e estes vem curvar-se e tocar respeitosamente o chão, em frente da orquestra, antes mesmo de saldar o pai ou mãe-de-santo do terreiro. No caso de um desses atabaques serem derrubados ou cair no chão durante uma cerimônia, esta é interrompida por alguns instantes, em sinal de contrição.
O uso da bata, utilizando no culto de Xangô na África, perdeu-se no Brasil, mas foi mantida em Cuba. Os ritmos bata são ainda conhecidos por este nome na Bahia. Acontece o mesmo com o ritmo denominado “ibi”, dedicado a Oxalá, que na África é batido sobre tambores conhecidos como ìgbìn.
Outros ritmos, como, por exemplo, o “ijexá”, são tocado em certos terreiros sobre os ìlù, pequenos tambores cilíndricos com duas peles ligadas uma à outra, durante os cultos de Oxum, Ogum, Oxalá e Logunedé. Durante os toques de chamada, feitos no início da cerimônia, os atabaques são batidos sem o acompanhamento de danças e cantos, o que contribui para realçar, graças a essa ausência de elementos melódicos, a pureza de ritmo associada a cada orixá. Em lugar de ritmos, podemos chamá-los “idiofones ou locuções musicais”, segundo a definição de Fernando Ortiz.
O elemento melódico das músicas africanas destaca-se, no decorrer das cerimônias privadas, no momento dos sacrifícios, oferendas e louvores dirigidos às divindades diante dos “péjis”. São cantos sem acompanhamento de tambores, ficando o ritmo ligeiramente acompanhado por palmas. A melodia é rigorosamente submetida às acentuações tonais da linguagem ioruba. Os dois elementos, o ritmo e melodia, encontram-se associados no decorrer do “xirê”, quando os sons dos atabaques são acompanhados por cantos.
Antes de começar o “xirê” dos orixás no barracão, faz-se sempre o padê, palavra que significa encontro em ioruba; um encontro, principalmente com Exu, o mensageiro dos ouros deuses, para acalmá-lo e dele obter a promessa de não perturbar a boa ordem da cerimônia que se aproxima. Nos terreiros de origem kêtu, o “padê” se apresenta de duas maneiras: pode consistir em alguns cânticos em honra a Exu e em oferendas de farofa amarela, de cachaça e azeite-de-dendê, depositados fora do barracão ao ter início o xirê.
O “padê” pode, também, tomar uma forma mais elaborada quando houver um sacrifício de um animal de quatro patas – carneiro, cabra, bode, tartaruga – acompanhado de animais de duas patas – galo e pombos -, bem cedo ao amanhecer.
O “padê”, nesses casos, faz-se há tarde, algumas horas antes do xirê . Trata-se, então, de uma cerimônia completa em si mesma e que escapa aos limites dessa obra. Não se tratam mais de orixás, salvo no que se refere a Exu. Faremos uma breve descrição dessa manifestação, pois ela pertence ao domínio da evocação de defuntos ancestrais e das bruxas e não do culto aos deuses africanos propriamente ditos.
Esta “padê” é em princípio, acessível apenas aos membros do terreiro.
As oferendas ficam reunidas no centro do barracão: alguns recipientes contendo farofa amarela, cachaça, azeite-de-dendê e acaçá.
A “dagan” ajoelha-se e arruma as oferendas, de acordo com os cânticos, em pequenas porções dentro de uma cabaça entregam, entregando-a a iamorô, que dança em torno dela e leva-a para fora do barracão.
Os “iaôs” ficam ajoelhados, o corpo inclinado para frente, com a cabeça pousada para frente sobre os punhos fechados, colocados um por cima do outro. O pai ou a mãe-de-santo entoa os cânticos, que são repetidos em coro pelo conjunto de filhos e filhas-de-santo.
Exu é saudado como prelúdio a uma série de cantos e louvores dirigidos sucessivamente aos “essás”, fundadores dos primeiros terreiros kêto na Bahia: Essá Assiká, Essá Obitikô, Essá Oburô, que são dessa maneira, devidamente honrados em companhia de quatro outros: Essá Ajadi, Essá Adiro, Essa Akessan, Essá Akayodé, sobre os quais não se conhece muito além dos nomes. Iyámi Oxòròngà (minha mãe feiticeira), também conhecida por Ìyá Agba (velha senhora respeitável), é em seguida saudada para evitar que sua grande suscetibilidade seja ferida e afastar, assim, a ameaça de uma possível vingança.
Uma vez terminada essa parte do ritual, todos se põem de pé, mãos estendidas em forma de saudação, enquanto a “iamorô” e as outras pessoas que tomaram parte ativa no padê dançam por um momento, para honrar a memória dos portadores de títulos desaparecidos. Mais tarde, no início da noite, começa o “xirê”. Os iaôs começam por saudar a orquestra e se protestar aos pés do pai ou da mãe-de-santo, executando em seguida, ao som dos atabaques danças para cada um dos orixás.
Para os filhos-de-santo, consagrados a um orixá determinado, quando chega à hora de evocar o orixá, a dança adquire uma expressão mais profunda, mais pessoal, e os ritmos, pelos quais foram sensibilizados, tornam-se uma chamada do orixá e podem provocar-lhe um estado de embriaguez sagrada e de inconsciência que os incitam a se comportarem como o deus, enquanto vivo.
O transe começa por hesitações, passos em falso, tremedeiras e movimentos desordenados dos “iaôs”. Imediatamente, ficam descalços, as jóias que usam são retiradas, as calças dos homens são arregaçadas até o meio da perna. Depois de alguns instantes, eles começam a dançar, possuído pelos seus deuses, com expressões faciais e maneiras de andar totalmente modificadas.
Os orixás são recebidos com gritos e louvores e, em seguida, fazem a saudação aos atabaques, ao pai ou à mãe-de-santo, aos “ogãs” do terreiro, sendo, finalmente, levados pelas ekédis ao pejí do seu deus. Os iaôs vestem-se, então, com roupas características de seus orixás e recebem suas armas em seu objetos simbólicos.
Uma vez convenientemente vestidos, todos os orixás encarnados voltam em grupo ao barracão, onde começam a dançar diante a uma assistência recolhida. Xangô “pavoneia-se” majestosamente; Oxum requebra-se; Oxossi corre perseguindo a caça; Ogum guerreia; Oxalufã, enfraquecido e curvado pelo peso dos anos, arrasta-se mais do que anda apoiado no seu paxorô.
Há várias sutilezas sobre essas entradas em transe que se inspira em detalhes indicados nas lendas dos deuses. Se a festa é para Xangô, pode-se aguardar a sua volta momentânea a terra, acompanhado por suas mulheres: Oxum, Oiá-Iansã e Oba; eventualmente, seu irmão mais velho, Dàda-Àjàkà, participa dessa cerimônia.
Mais raramente, aparecem Oxalá ou Nanã Buruku. Se a cerimônia destinase a Ogum, Oxossi também estará presente, sendo provável o comparecimento de Oiá-Iansã, freqüentemente em briga, a golpes de sabre, com Ogum. Se a festejada for Oxum, Xangô estará presente, podendo Oxossi também comparecer, como lembranças de suas aventuras passadas.
Isso tende a confirmar o que Bastide escrevia a respeito do transe de possessão, que “o transe não é apenas um simples reflexo condicionado respondendo automaticamente a um estímulo”. O estímulo, nessa circunstância, seria um determinado ritmo que sensibilizou o iaô no decorrer de sua iniciação. Existia um controle da comunidade, da qual faziam parte os orixás, que os obrigaria a levar em conta o caráter cãs relações que existiam entre eles. Isso é válido, quer se trate de laços hereditários ou de manifestações de arquétipos, que tal modo torna-se rigoroso o conformismo do iaô possuído pelo comportamento convencional esperado pelo deus modelo.
A diferença entre as cerimônias para os orixás na África e no Novo Mudo decorre, sobretudo, de que, na primeira, invocasse um só orixá durante uma festa celebrada em um templo reservada para ele, enquanto no Novo Mundo vários orixás são chamados em um mesmo terreiro durante uma mesma festa. E ainda na África tal cerimônia é celebrada geralmente pela coletividade familiar e um só elégùn é normalmente possuído.
No Novo Mundo, não existindo essa coletividade familiar, o orixá tornou-se um caráter individual e acontece que, durante uma mesma festa, vários “iaôs” são possuídos pelo mesmo orixá, para satisfação própria e de todos aqueles que cultuam esse orixá.
O candomblé, como conhecemos no Brasil, é um sub-produto dos "Cultos aos Males, Irunmales e Orixás". Estes cultos são originários do Continente africano. Foram espalhados pelo mundo no advento da escravidão dos negros africanos. Vários povos (ou nações) foram trazidos para o Brasil como escravos. Cada nação era formada por várias tribos. Cada tribo tinha sua forma de culto e seu deus particular. Ex. (Povo Nagô)
Cidade: Oyó = Deus adorado: Xango
Cidade: Irê = Deus adorado: Ogum
Cidade: Keto = Deus adorado: Oxossi
Cidade: Ilexá = Deus adorado: Oxum
Cidade: Ibadam= Deus adorado: Yemanjá

Cada indivíduo por sua vez adorava o deus coletivo, seu bara (dono do seu corpo), seu olori (dono de sua cabeça) e seu odu (seu destino).
Formação do panteão de orixás

Com a vinda de muitas nações africanas para o Brasil, vieram um sem número de cultos e deuses. No nordeste do Brasil a predominância, entre outros povos trazidos, foi dos Nagôs que falavam o Yorubá (língua do rei). Já no sudeste a predominância foi dos povos bantos. Com a necessidade deles viverem juntos nas senzalas (tanto no nordeste como no sudeste do Brasil) ouve uma mesclagem das culturas (roupas, dialetos, indumentárias cultos e etc.) com as predominâncias já citadas. Daí nasce o que chamamos no Brasil Candomblé. Palavra de origem desconhecida.

Obs. Neste ensaio faremos referência a esses dois povos.
Conceito de Deus

Para os nagôs (nordeste do Brasil) existe um criador de todas as coisas, cujo nome não é permitido dizer. Eledumarê ou Eledumayê ou ainda Olodumaré, (Senhor do Destino Eterno ou Deus Eterno). Vale comparar com o título dado a Deus: El adonai.

Para os bantos (sudeste do Brasil) o criador é Zambi .
Conceito de Salvação

Na visão dos nagôs, quando um africano morre crê-se que ele vai para um dos nove oruns (céus) existentes. Quem cuida desses oruns é uma entidade chamada Oyá - Inhaçã (Yámesan - Mãe dos nove - fazendo referência aos nove oruns ou nove cabeças).

Quando uma alma desencarnada fica vagando, é chamado o alagbá (chefe do culto dos egunguns) para despachá-lo.

Há também uma cerimônia quando alguém ligado ao culto morre. É o Axexê - cerimônia fúnebre para apascentar o morto e invocar Oyá Balé (título que significa: senhora dos mortos ou do cemitério) para levá-lo ao seu destino.
Pecado

Não há conceito de pecado. Todas as oferendas são feitas para agradar e reverenciar os deuses. Há dois tipos básicos de oferendas: O ebó - sacrifício ou obrigação e o Irubó - oferenda.

Nestes sacrifícios ou oferendas acredita-se que: A energia vital do animal (seu sangue) sacrificado é transferida para o ofertante ou aquele que faz o sacrifício.
Cerimônias de Iniciação

Nas cerimônias de iniciação (vide cap. Gen. 29:1-35), há um ritual chamado afejewé (nós lavamos com sangue) que é o ápice do ritual. Consiste em sacrificar vários animais e banhar o yaô (noiva - novato) naquele sangue colhido. Todos os iniciados são sacerdotes. A cerimônia visa o renascimento do yaô. O mesmo fica recluso um período de tempo que varia de tribo para tribo. Este período de reclusão eqüivale a sua morte. A cerimônia do afejewé o princípio do seu renascimento. Quando renascido o yaô recebe o seu orukó - novo nome e passa por um ritual de reaprendizagem das atividades comuns do tipo: comer, se vestir, andar sentar etc. Tudo lhe é ensinado novamente e quem faz isto é a yákota - mãe criadora ou mãe pequena. Nunca mais se pode fazer referência ao "velho homem morto" ou seja nem seu velho nome pode ser dito. Se por ventura alguém chama um desses sacerdotes por seu velho nome é como se lhe desejasse a morte.
O candomblé no Brasil

No Brasil muito de tudo isto se perdeu e muito foi acrescentado. O candomblecista comum acredita em Deus e os noviços são marcados no seu corpo com uma cruz, na maioria das casas de candomblés. São levados, após as cerimônias de iniciação a uma missa para receber a bênção do padre. Uma tradição que virou ritual.
Iniciação ao culto afro-religioso (“fazer o santo”)
A iniciação no candomblé é um processo extremamente complexo e lento, além de ser um assunto com muitas restrições para ser discutido publicamente, uma vez que cada nação (segmento da religião), cada família (grupo de pessoas ligadas através de um mesmo elo ancestral) e cada casa de candomblé (grupo pertencente especificamente a uma casa) têm rituais específicos.
A iniciação é algo muito particular de cada orixá, por isto cada iaô tem seus próprios rituais. Porém, o básico é feito em todos. Este "básico" consiste na raspagem da cabeça e na abertura de incisões (através de métodos compatíveis com cada orixá) em diversas partes do corpo do (a) iaô. Durante esta fase da iniciação, tudo é feito sob a luz de vela (quando o orixá do (a) iaô não exige outro tipo primitivo de iluminação), ao som de cantigas específicas para o momento e diante das poucas pessoas autorizadas pelo orixá. Feito isto, será dado início aos sacrifícios de animais pedidos pelo orixá do (a) iaô. Apesar de já serem chamados de iaô, ainda têm uma dura fase de aprendizado pela frente: danças, rezas, comportamento, tudo sempre atrelado ao seu orixá.
Finalizados os procedimentos internos de iniciação, é chegada a hora da cerimônia pública. Aliás, todos grandes rituais do candomblé culminam em cerimônias públicas, que assumem o papel de confirmadoras do ocorrido, de preferência com a participação de pessoas de outras casas e até mesmo outras famílias. A presença de pessoas pertencentes a outras nações em uma saída de iaô é considerada uma grande honra.
Passado o período do "kelê" – o colar sagrado que é posto no pescoço do (a) iaô durante o processo de iniciação e que não pode ser removido, exceto através de ritual específico e que, dependendo da casa ou família, deve ser carregado por 12 semanas, devendo ser respeitado evitando-se todos os prazeres mundanos.
O (a) iaô, teoricamente, entra em seu ritmo social normal até o primeiro ano, quando então cumprirá com novas obrigações.
Depois precisará cumprir com suas obrigações aos três anos. Há casas onde também são cumpridas obrigações no quinto ano. Finalmente, vem às obrigações que são a confirmação final da iniciação e que é feita aos sete anos, quando então o(a) iaô se tornará um ebômi (mais velho) através de uma cerimônia pública, onde poderá receber o conjunto de símbolos da maioridade, comumente chamado de Deká. A partir daí, a ebômi estará pronta para abrir sua própria casa, caso este seja seu caminho (definido no momento da sua concepção e revelado pelo jogo de búzios), dando origem à sua própria família com base nos ensinamentos que adquiriu durante os sete anos da iniciação do aprendizado inicial.
Aqueles que não têm o "caminho" para assumirem a função de abrirem suas próprias casas, continuarão atuando dentro daquela onde foram iniciados, podendo receber cargos e/ou títulos que determinarão os seus papéis junto à sua família-de-santo.
Cerimônias públicas
Festa ou Toque é o nome que se dá, genericamente, à cerimônia pública de candomblé. O objetivo principal é a presença dos orixás entre os mortais. Sendo a música uma linguagem privilegiada no diálogo dos orixás, a festa pode ser entendida como um chamado ou uma prece, pedindo aos orixás que venham estar junto a seus filhos, seja por motivo de alegria ou necessidade.
Tratando-se de uma festa, todo o terreiro é enfeitado com folhas na parede e no chão e os três atabaques (Rum, Rumpi, Lé), considerados aqueles que chamam os orixás juntamente com Exu, recebem comidas e são enfeitados com laços na cor do orixá ao qual foram consagrados. Todas as festas acontecem no espaço do terreiro denominado barracão, onde se encontram os atabaques, à frente dos quais canta e dança o povo-de-santo, separados ( ainda que dentro de um mesmo ambiente ) dos convidados e frequentadores. Um toque comum começa, geralmente, pelo ritmo dos atabaques chamando a roda-de-santo (filhos de santo organizados em círculo), respeitando a hierarquia do terreiro. As roupas costumam ser muito bonitas, fazendo alusão ao orixá individual do adepto. São usadas as contas dos orixás, os brajás e tudo o que identifique o status religioso.
A roda entra dançando e estando no barracão, os atabaques param o Babalorixá ou Ialorixá saúda Exu e tem início o padê, que tem por finalidade “despachar” Exu (através da oferenda de farinha com dendê e gim). Seja porque se acredite que ele possa causar perturbações ao toque, seja porque se acredite que é ele o principal mensageiro, que abrirá os caminhos para vinda dos orixás. Fim do padê prossegue o xirê, uma estrutura seqüencial de cantigas para todos os orixás cultuados na casa ou mesmo pela Nação começando por Exu e indo até Oxalá.
A palavra xirê significa brincar, dançar, e mostra o tom alegre da festa aonde os Orixás vêm a terra para dançar e brincar com seus filhos. Seja qual for à seqüência, privilegiando os vínculos de parentesco e de nação, ela costuma ser fixa para cada casa, dirigindo os acontecimentos da festa, fazendo com que os filhos-de-santo identifiquem, através das cantigas e ritmos, os momentos apropriados ao cumprimento da etiqueta religiosa.
O que é o candomblé, como se prepara a festa, quem são os orixás, como funciona um terreiro, os rituais de iniciação, a sabedoria dos búzios e sua origem e misturas.
Os navios negreiros que chegaram entre os séculos XVI e XIX traziam mais do que africanos para trabalhar como escravos no Brasil Colônia. Em seus porões, viajava também uma religião estranha aos portugueses. Considerada feitiçaria pelos colonizadores, ela se transformou, pouco mais de um século depois da abolição da escravatura, numa das religiões mais populares do país.Quem gosta de cachaça é Exu. Quem veste branco é Oxalá. Quem recebe oferendas em alguidares (vasos de cerâmica) são orixás. E quem adora os orixás são milhões de brasileiros. O candomblé, com seus batuques e danças, é uma festa. Com suas divindades geniosas, é a religião afro-brasileira mais influente do país.
Não existem estatísticas que dêem o número exato de fiéis. Os dados variam. Segundo o Suplemento sobre Participação Político-Social da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1988, 0,6% dos chefes de família (ou cônjuges) seguiam cultos afrobrasileiros. Um levantamento do Instituto Gallup de Opinião Pública, no mesmo ano, indicou que candomblé ou umbanda era a religião de 1,5% da população.
São índices ridículos se comparados à multidão que lota as praias na passagem de ano, para homenagear Iemanjá, a orixá (deusa) dos mares e oceanos. Elisa Callaux, gerente de pesquisa do IBGE, explica por que, tradicionalmente, os índices dos institutos não refletem exatamente a realidade: Os próprios fiéis evitam assumir, por medo do preconceito. Ela tem razão. A mais célebre mãe-de-santo do Brasil, Menininha do Gantois, falecida em 1986, declarou certa vez ao pesquisador do IBGE que era católica. Apostólica romana.
De seu lado, a Federação Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Fenatrab) desafia ostensivamente as cifras oficiais e garante haver 70 milhões de brasileiros, direta ou indiretamente, ligados aos terreiros seja como praticantes assíduos, seja como clientes, que ocasionalmente pedem uma bênção ou um serviço ao mundo sobrenatural.
Você pode achar um exagero, e talvez seja mesmo, mas terreiro é o que não falta. Em 1980, num convênio da Prefeitura de Salvador com a Fundação Pró-Memória, o antropólogo Ordep Serra, da Universidade Federal da Bahia, concluiu um mapeamento dos terreiros existentes na região metropolitana de Salvador. Eram 1 200. Hoje são muitos mais, assegura Serra.
Mais recentemente, o Instituto de Estudos da Religião (ISER) verificou que 81 novos centros espíritas (englobando cultos afro-brasileiros e kardecismo) haviam sido abertos no Grande Rio de Janeiro no ano de 1991, e que, em 1992, surgiram outros 83. O sociólogo Reginaldo Prandi, da Universidade de São Paulo, contou, em 1984, 19 500 terreiros registrados nos cartórios da capital paulista.
Onde tem terreiro, tem festa. Por isso, para levar você ao mundo do candomblé, SUPER começa por convidá-lo para uma festa no terreiro. Agora, você conhecerá em detalhes um dos fenômenos mais impressionantes da civilização brasileira.
No candomblé a alimentação é uma das coisas mais importantes para o desenvolvimento das práticas religiosas. É interessante ressaltar que uma forma de receber o axé é comendo esses alimentos. Durante o oferecimento das comidas são realizadas saudações e entoados cânticos em forma de orações, invocando a força dos orixás e pedindo que eles aceitem o que lhes é entregue de bom grado.
Essa oferenda, então, passa a estar impregnada de toda força invocada, que também é axé. Por isso devemos comê-la com concentração e em silêncio, pois estamos partilhando de um momento sagrado com os orixás.
O barracão está pronto: a festa vai começar
São nove horas da noite. Os tocadores de atabaque, chamados alabês, estão a postos em seus lugares. O público cerca de 40 pessoas aguarda em silêncio, acomodado em bancos rústicos de madeira. Os homens, na fileira à direita da porta. As mulheres, do lado esquerdo. Separados, para evitar um eventual namoro. Afinal, ali não é lugar para isso. Estamos num templo do candomblé, a Casa Branca, em Salvador, Bahia, o pioneiro do Brasil, fundado em 1830.A festa (que pode ser comparada a uma missa católica) vai homenagear Xangô, o deus do fogo e do trovão.
O barracão foi decorado durante toda a tarde. O teto de telha-vã foi escondido por bandeirolas brancas e vermelhas as cores de Xangô. As paredes estão enfeitadas de flores e folhas de palmeira de dendê desfiadas. Vai começar o toque, como é chamada a festa de candomblé no Brasil. Ela é aberta a todos os orixás (deuses, que também podem ser chamados de santos) que quiserem homenagear Xangô.
O que o público vai assistir é parte de um ritual que começou horas antes. Na madrugada, os filhos-de-santo fizeram o sacrifício para o orixá homenageado. Nas primeiras horas da manhã, as filhas-de-santo prepararam a comida. Durante a tarde, foi feita a oferenda aos deuses, e Exu, o mensageiro entre os homens e os orixás, foi despachado.
O calendário litúrgico
Muitas festas não têm dia certo para acontecer. As festas normalmente estão associadas aos dias santos do catolicismo. Mas as datas podem variar de terreiro para terreiro, de acordo com a disponibilidade e as possibilidades da comunidade. De maneira geral, o que importa é comemorar o orixá na sua época.
As principais festas, ao longo do ano, são as seguintes:
  • Janeiro: Festa de Oxalá (coincide com a festa do Bonfim, em Salvador), no segundo domingo depois do dia de Reis, 6 de janeiro.
  • Quaresma: O encerramento do ano litúrgico acontece durante os quarenta dias que antecedem a Páscoa, com o Lorogun, em homenagem a Oxalá.
  • Abril: Feijoada de Ogum e festa de Oxóssi (associado a São Sebastião), em qualquer dia.
  • Junho: Fogueiras de Xangô (associados a São João e São Pedro), dias 25 e 29.
  • Agosto: Festa para Obaluaiê (associado a São Lázaro e São Roque) e festa de Oxumaré (associado a São Bartolomeu), em qualquer dia.
  • Setembro: Começa um ciclo de festas chamado Águas de Oxalá, que pode seguir até dezembro. Festa de Erê, em homenagem aos espíritos infantis (associados a São Cosme e Damião). Festa das iabás (esposas de orixás) e festa de Xangô (associado a São Jerônimo), em qualquer dia.
  • Dezembro: Festas das iabás Iansã (Santa Bárbara), dia 4, Oxum e Iemanjá (associadas a Nossa Senhora da Conceição), dia 8. Iemanjá também é homenageada na passagem de ano.
Ao som dos atabaques, o santo manifesta – se
Fotografar uma festa de candomblé não é tão fácil. Na Casa Branca, é absolutamente proibido. Mas outros terreiros, como o Ilê Axé Ajagonã Obá-Olá Fadaká, em Cotia, região da grande São Paulo, são mais liberais. Nesta casa, podemos bater fotos da cerimônia em homenagem a Xangô. Mas com uma ressalva: a de jamais fotografar de frente um filho-de-santo com o orixá incorporado.
A casa está cheia: 85 pessoas lotam o barracão. Os atabaques começam a falar com os deuses. Os orixás são invocados com cantigas próprias e os filhos-de-santo entram na roda, um a um, na chamada ordem do xirê: primeiro, o filho de Ogum, seguido pelos filhos de Oxóssi, Obaluaiê e assim por diante.
Ao som do canto e da batida dos atabaques, cada integrante da roda entra em transe. O corpo estremece em convulsão, às vezes suavemente, outras vezes com violência. Agora, os filhos incorporam os orixás e dançam até que o pai-de-santo autorize, com um aceno, sua saída, para serem arrumados pelas camareiras, chamadas equedes. Logo depois, eles voltam ao barracão, vestindo roupas, colares e enfeites típicos de seu santo. Ao ouvir seu cântico, cada um começa a dançar sozinho uma coreografia que conta a origem do orixá incorporado.
É quase meia-noite quando os atabaques tocam as cantigas de Oxalá, o criador dos homens. Saudado Oxalá, é hora da comunhão com os deuses: os pratos são servidos aos participantes da festa. O xirê chega ao fim.
Sem música, não existe cerimônia
Tudo acontece sob a batida de três atabaques.
Os três atabaques que fazem soar o toque durante o ritual também são responsáveis pela convocação dos deuses.
O rum funciona como solista, marcando os passos da dança. Os outros dois, o rumpi e o lé, reforçam a marcação, reproduzindo as modulações da língua africana iorubá uma língua cantada, como o sotaque baiano. Além dos atabaques, usam-se também o agogô e o xequerê.
São, ao todo, mais de quinze ritmos diferentes. Cada casa-de-santo tem até 500 cânticos. Segundo a fé dos praticantes, os versos e as frases rítmicas, repetidos incansavelmente, têm o poder de captar o mundo sobrenatural. Essa música sagrada só sai dos terreiros na época do carnaval, levada por grupos e blocos de rua, principalmente em Salvador, como Olodum ou Filhos de Gandhi .
As divindades têm defeitos humanos
Em qualquer terreiro, a entrada dos orixás na festa segue sempre a mesma seqüência da ordem do xirê. Depois de despachar Exu, o primeiro a entrar na roda é Ogum, seguido de Oxóssi, Oba- luaiê, Ossaim, Oxumaré, Xangô, Oxum, Iansã, Nanã, Iemanjá e Oxalá.
Segundo a tradição, os deuses do candomblé têm origem nos ancestrais dos clãs africanos, divinizados há mais de 5 000 anos. Acredita-se que tenham sido homens e mulheres capazes de manipular as forças da natureza, ou que trouxeram para o grupo os conhecimentos básicos para a sobrevivência, como a caça, o plantio, o uso de ervas na cura de doenças e a fabricação de ferramentas.
Os orixás estão longe de se parecer com os santos cristãos. Ao contrário, as divindades do candomblé têm características muito humanas: são vaidosos, temperamentais, briguentos, fortes, maternais ou ciumentos. Enfim, têm personalidade própria. Cada traço da personalidade é asso-ciado a um elemento da natureza e da sua cultura: o fogo, o ar, a água, a terra, as florestas e os instrumentos de ferro.
Na África Ocidental, existem mais de 200 orixás. Mas, na vinda dos escravos para o Brasil, grande parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de orixás conhecidos no país está reduzido a dezesseis. E, mesmo desse pequeno grupo, apenas doze são ainda cultuados: os outros quatro Obá, Logunedé, Ewa e Irôco raramente se manifestam nas festas e rituais.
Deuses e homens sob o mesmo teto
O terreiro, ou casa-de-santo, é simultaneamente templo e morada. A vida cotidiana dos mortais mistura-se com os rituais dos orixás. A família-de-santo (a mãe ou o pai e os filhos-de-santo, não necessariamente parentes de sangue) divide os cômodos com os deuses.
A divisão do espaço, na Casa Branca, em Salvador, lembra os compounds africanos, ou egbes antigas habitações coletivas dos clãs, usadas principalmente pelos povos de língua iorubá. O cômodo principal é o barracão, o salão onde humanos e santos se encontram nas festas.
Por trás do barracão, há várias instalações comuns a uma residência: salas de jantar e de estar, cozinha e quartos nem todos destinados aos mortais. Há os quartos-de-santo, onde ficam os pejis (altares) e os assentamentos (objetos e símbolos) dos orixás. Aí são feitas as oferendas. Na Casa Branca, os dois únicos orixás que têm quartos dentro da casa são Xangô e Oxalá.
O roncó é um quarto especial onde os abiãs (noviços) ficam recolhidos durante o processo de iniciação. Essa proximidade dos abiãs com os outros membros do terreiro é fundamental: é assim que os iniciados entram em contato com os procedimentos rituais da casa. O fiel do candomblé aprende com os olhos e os ouvidos. Ele deve prestar atenção a tudo e não perguntar nada.
Os terreiros têm também uma área externa, onde estão as casas dos outros orixás. A de Exu, por exemplo, fica perto da porta de entrada.
Sucessão: guerra à vista
A sucessão numa casa-de-santo é sempre tumultuada: basta o pai-de-santo morrer para ter início uma verdadeira guerra entre orixás. Os filhos que não concordam com a indicação dos búzios costumam abandonar o terreiro e fundar sua própria casa. Foi assim que nasceu, no início do século, o Gantois uma das casas mais conhecidas em Salvador. A partir da década de 70, mãe Menininha do Gantois se tornou conhecida no Brasil inteiro, cantada por compositores, como Dorival Caymmi e Caetano Veloso, e venerada por intelectuais, como Jorge Amado. Mãe Menininha morreu aos 92 anos de idade, em 1986. Deixou em seu lugar mãe Creusa.
Por meses, o noviço só come com as mãos
Os filhos-de-santo são os sacerdotes dos orixás, da mesma forma como, na Igreja Católica, os padres são os representantes de Deus. Nem todos, porém, são preparados para receber os santos. Existem os que cuidam dos filhos-de-santo quando os orixás baixam, os que sacrificam os animais, os que tocam os atabaques e os que preparam a comida. Os búzios, usados como instrumento de adivinhação, é que vão dizer qual a função de cada um.
A entrada para essa hierarquia é a indicação do orixá. É o que se chama bolar no santo. A partir daí, o abiã (noviço) tem de se submeter aos rituais de iniciação cerimônias do bori, orô e saídas de iaô.
Um recém-iniciado passa de um a seis meses vivendo dentro de severas restrições. É o tempo de quelê o período em que o abiã usa um colar de contas justo ao pescoço. Enquanto usar o quelê, ele deve vestir branco, comer com as mãos e sentar-se só no chão. Estão proibidas as relações sexuais e os pratos que não sejam os de seu orixá.
Nem todos os terreiros seguem à risca todas as imposições. Mas pelo menos algumas têm de ser obedecidas: é parte do compromisso do abiã com seu orixá e seu pai ou mãe-de-santo. As obrigações não terminam por aí: o iniciado, que agora se chama iaô, terá de cumprir ainda três rituais depois de um ano, três anos e sete anos , com sacrifícios, toques e oferendas. Só depois ele pode se candidatar a ebômi, o degrau seguinte da hierarquia.
A sabedoria da morte e da advinhação
Como toda religião , o candomblé tem sua maneira própria de encarar a morte. Segundo a crença, a alma vive no Orum, que corresponde, mais ou menos, ao céu dos católicos. Ela é imortal e faz várias passagens do Orum para a vida terrena. Cada um tem controle sobre essas viagens: quem tem uma boa experiência em vida, pode escolher um destino melhor, na vinda seguinte.
Aqui na Terra, nada que se refira aos deuses e ao futuro pode ser dito sem a consulta ao Ifá, ou seja o jogo de búzios, conchas usadas como oráculo. O Ifá revela o orixá de cada um e orienta na solução de problemas.
O jogo usa dois caminhos: a aritmética e a intuição. Pela aritmética, é contado o número de conchas, abertas ou fechadas, combinadas duas a duas. Para interpretar todas as combinações possíveis dos bú- zios, o pai-de-santo conhece de cor 256 lendas que traduzem as mensagens dos deuses. Isso não é nada raro no candomblé, onde nada é escrito. Toda a sabedoria é transmitida oralmente.
No outro sistema de adivinhação, o intuitivo, o pai-de-santo estuda a posição dos búzios em relação a outros elementos na mesa, como uma moeda ou um copo d'água. Se o búzio cai perto da moeda, por exemplo, pode indicar que não há problemas com dinheiro. Mas é preciso estar preparado: os orixás vão cobrar pela consulta uma obrigação. Mãe Kutu, que foi formada pela Casa Branca e está montando seu próprio terreiro, diz: Se não vai fazer a obrigação, é melhor nem perguntar aos búzios.
Reza para o santo católico e vela para o orixá
Existem diferentes tipos de candomblé no Brasil, cada um deles saído de uma nação. A palavra nação aqui não tem nada a ver com o conceito político e geográfico, mas com os grupos étnicos daqueles que foram trazidos da África como escravos. As diferenças aparecem principalmente na maneira de tocar os atabaques, na língua do culto e no nome dos orixás.Os povos que mais influenciaram os quatro tipos de candomblé praticados no Brasil são os da língua iorubá. Os rituais da Casa Branca, em Salvador, e da casa de Cotia, em São Paulo, descritos nesta reportagem, pertencem ao tipo Queto. A mistura com o catolicismo foi uma questão de sobrevivência. Para os colonizadores portugueses, as danças e os rituais africanos eram pura feitiçaria e deviam ser reprimidos. A saída, para os escravos, era rezar para um santo e acender a vela para um orixá. Foi assim que os santos católicos pegaram carona com os deuses africanos e passaram a ser associados a eles. A partir da década de 20, o espiritismo também entrou nos terreiros, criando a umbanda, com características bem diferentes.
Assim, o candomblé já se incorporou à alma brasileira. Tanto é que o país inteiro conhece o grito de felicidade a saudação mágica que significa, em iorubá, energia vital e sagrada: Axé!
Da África ao Brasil, uma boa mistura
A principal diferença entre os vários tipos de candomblé é a origem étnica.
Há quatro tipos de candomblé: o Queto, da Bahia, o Xangô, de Pernambuco, o Batuque, do Rio Grande do Sul, e o Angola, da Bahia e São Paulo. O Queto chegou com os povos nagôs, que falam a língua iorubá (em vermelho, no mapa). Saídos das regiões que hoje correspondem ao Sudão, Nigéria e Benin, eles vieram para o Nordeste. Os bantos saíram das regiões de Moçambique, Angola e Congo para Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo (em amarelo, no mapa). Criaram o culto ao caboclo, representante das entidades da mata.
Candomblé não é umbanda
As duas são religiões afro-brasileiras.
Umbanda é a mistura do candomblé com espiritismo
Candomblé
  • Deuses: Orixás de origem africana. Nenhum santo é superior ou inferior a outro. Não existe o Bem e o Mal, isoladamente.
  • Culto: Louvação aos orixás que incorporam nos fiéis, para fortalecer o axé (energia vital) que protege o terreiro e seus membros.
  • Iniciação: Condição essencial para participar do culto. O recolhimento dura de sete a 21 dias. O ritual envolve o sacrifício de animais, a oferenda de alimentos e a obediência a rígidos preceitos.
  • Música: Cânticos em língua africana, acompanhados por três atabaques tocados por iniciados do sexo masculino.
Umbanda
  • Deuses: As entidades são agrupadas em hierarquia, que vai dos espíritos mais baixos (maus) aos mais evoluídos (bons).
  • Culto: Desenvolvimento espiritual dos médiuns que, quando incorporam, dão passes e consultas.
  • Iniciação: Não é necessária. O recolhimento é de apenas um ou dois dias. O sacrifício de animais não é obrigatório. O batismo é feito com água do mar ou de cachoeira.
  • Música: Cânticos em português, acompanhados por palmas e atabaques, tocados por fiéis de qualquer sexo.
Quem é quem (e quem faz o quê) na hierarquia de uma casa-de-santo
Cada iniciado tem uma função dentro do terreiro. Nem todos recebem santo.
Abiã
Noviço, primeiro degrau da hierarquia. Após iniciado, será filho-de-santo.
Iaô
Filho-de-santo, segundo degrau na hierarquia. Podem ou não receber santo.
Ebômi
Terceiro degrau. Iaô que cumpriu as obrigações de sete anos. Recebe santo.
Iabassê
Quarto degrau. Não recebe. É a responsável pela cozinha do terreiro.
Agibonã
Mãe criadeira. Também quarto degrau. Cuida dos iaôs durante o ritual de iniciação. Não recebe santo.
Ialaxé
Quinto degrau. Zela pelas oferendas e objetos de culto aos orixás. Não recebe santo.
Baba-quequerê e Iaquequerê
Sexto degrau. Pai ou mãe-pequena. Recebe. Ajuda o pai ou mãe-de-santo no comando do terreiro.
Baba-lorixá e Ialorixá
Pai ou mãe-de-santo, chefe do terreiro, último degrau da hierarquia. Recebe santo e joga búzios.
Ajudantes sagrados
Pais e mães terrenos dos orixás ficam fora da hierarquia.
Ogã
  • Filho-de-santo que não recebe. O Ogã pode ser Axogum ou Alabê, conforme sua tarefa.
  • Axogum: Ogã responsável pelo sacrifício de animais a serem ofertados aos orixás. Não recebe santo.
  • Alabê: Ogã tocador dos atabaques e instrumentos rituais. Não recebe santo.
Equede: Paralela ao Ogã. Não recebe. Cuida dos orixás incorporados e de seus objetos.
As diversas fases da iniciação
Primeiro, o santo indica a pessoa a ser iniciada. Depois, é preciso cumprir outros três passos:
  • Bolar no santo: É o mesmo que cair no santo. Este é o sinal que indica a necessidade de iniciação de uma pessoa no candomblé. Acontece sem previsão, normalmente numa festa: durante a dança e os cânticos o orixá se manifesta no futurofilho-de-santo, que é agitado por tremores e sobressaltos violentos. Quem já bolou conta que sentiu arrepios, calor, fraqueza e sensação de desmaio. Quando acorda no roncó (o quarto do terreiro reservado à pessoa que bolou), o abiã não consegue se lembrar de nada do que aconteceu.
  • O bori: É a cerimônia que reforça a ligação entre o orixá e o iniciado. O abiã se senta numa esteira, rodeado de alimentos secos, aves, velas e objetos de seu orixá. Ajudado pelos filhos já feitos, o pai ou a mãe-de-santo sacrifica aves. O sangue é usado para marcar o corpo do noviço e para banhar as oferendas ao orixá.
A cerimônia só termina quando as aves são servidas aos membros da família-de-santo. Depois do bori, o futuro filho-de-santo passa a assistir às cerimônias e a preparar o enxoval (a roupa e os adereços de seu orixá) para terminar a iniciação, com as saídas de iaô.
  • Orô: Confinado ao quarto de recolhimento (roncó), por 21 dias, o noviço conhece a hierarquia da casa, os preceitos, as orações, os cânticos, a dança de seu orixá, os mitos e suas obrigações. Durante esse tempo ele toma infusões de ervas, que o deixam num estado de entorpecimento e abrem espaço na sua mente para o orixá. A cabeça é raspada e o crânio marcado com navalha: é por esses cortes que o orixá vai entrar, quando for incorporado. No final, o iniciado é batizado com sangue de um animal quadrúpede, sacrificado.
Os iaôs são apresentados à comunidade, como num baile de debutante
Na primeira saída, os iaôs vestem branco em homenagem a Oxalá, pai de todos. Saúdam o pai-de-santo, os atabaques e os pontos principais do barracão e vão-se embora. Na segunda saída, os iaôs voltam com roupas coloridas e a cabeça pintada, segundo seus orixás. Dançam e deixam o barracão, em seguida. Na terceira saída, os orixás anunciam oficialmente seus nomes. Os iaôs entram em transe e se retiram para vestir as roupas do santo incorporado.
O toque
É o mesmo que festa e se refere à batida dos atabaques, que convoca os orixás. A estrutura da cerimônia, chamada ordem do xirê (brincadeira, na língua iorubá), divide a festa em três partes. A primeira acontece à tarde, com o sacrifício, a oferenda e o padê de Exu. A segunda é a festa em si, à noite, na presença do público, quando os filhos-de-santo incorporam os orixás. E a terceira fase, o encerramento, com a roda de Oxalá, o deus criador do homem.
O sacrifício
Acontece apenas diante dos membros da comunidade de santo e envolve no mínimo dois animais: um, de duas patas, para Exu, e outro, de quatro patas, macho ou fêmea, dependendo do sexo do orixá a ser homenageado. Quem realiza o sacrifício é o ogã axogum, um iniciado no candomblé especialmente preparado para isso. Os bichos são mortos com um golpe na nuca. Depois, a cabeça e os membros são cortados fora e o animal sacrificado vai sangrar até a última gota antes de ser destinado à oferenda.
A oferenda
Depois do sacrifício, a moela, o fígado, o coração, os pés, as asas e a cabeça são separados e oferecidos ao orixá homenageado num vaso de barro, chamado alguidar. O sangue, recolhido numa quartinha de cerâmica (espécie de moringa), é derramado sobre o assentamento do santo, ou seja, o local onde ficam seus objetos e símbolos. As partes restantes são destinadas ao jantar oferecido aos orixás, ainda à tarde, e aos participantes, ao final da festa pública, à noite.
O padê de Exu
Este é também um ritual fechado ao público. Significa despacho de Exu. É ele quem faz a ponte entre o mundo natural e o sobrenatural. Portanto, é ele quem convoca os orixás para a festa dos humanos. Para isso, é preciso agradá-lo, oferecendo comida (farofa com dendê, feijão ou inhame) e bebida (água, cachaça ou mel). As oferendas são levadas para fora do barracão e a porta de entrada é batizada com a bebida, já que Exu é o guardião da entrada e das encruzilhadas (por isso é comum ver oferendas em esquinas nas ruas e em encruzilhadas nas estradas).
Fios-de-conta
Na mitologia do candomblé, os colares de contas aparecem como objetos de identificação dos fiéis aos orixás e o seu recebimento, como momento importante nessa vinculação. De acordo com o mito, a montagem, a lavagem e a entrega dos fios-de-conta constituem momentos fundamentais no ritual de iniciação dos filhos-de-santo, o qual, daí em diante, além de unidos, está protegido pelos orixás.
Muito mais que um adorno, o fio-de-conta é uma marca e uma fonte de axé. O simples colar ao ser imerso na devida mistura de folhas quinadas, associada a alguns outros materiais, transforma-se em uma identificação que remete o indivíduo ao seu lugar na comunidade.
Feitos com contas de diferentes materiais e cores, esses fios apresentam uma grande diversidade e podem ser agrupados por tipologias de acordo com os usos e significados que têm no culto. Assim, acompanham e marcam a vida espiritual do fiel, desde os primeiros instantes da sua iniciação até às suas cerimônias fúnebres.
Ao receber seus primeiros fios-de-conta, geralmente um fio de Oxalá, de cor branco leitoso, e outro de seu orixá pessoal, quando este não é o orixá principal , o então abiã – segundo a hierarquia do candomblé, é um candidato à iniciação que já pode participar da vida cotidiana da casa/terreiro – se apercebe da importância de Oxalá no conjunto dos orixás. Oxalá é o deus do branco, o pai dos orixás, ou seja, uma energia geradora que antecede, no tempo, os demais orixás. Os primeiros conhecimentos acerca deste orixá circunscrevem-se na própria simbologia do branco que, sendo o somatório de todas as cores, traz em si todas as possibilidades de cor. Por isso, necessariamente, o primeiro fio que se recebe é o branco de Oxalá, simbolizando o estado de latência que caracteriza o abiã com um candidato à iniciação.
Dos primeiros fios às contas mais livres, complexas e personalizadas que a pessoa vai produzindo ou ganhando ao longo do tempo, delineia-se o caminho de cada um na sua vinculação aos orixás e à comunidade do terreiro. Desta maneira, as transformações nos colares revelam o conhecimento adquirido pela pessoa e sua ascensão na hierarquia religiosa.
De modo que um leigo pode passar despercebido por um fio-de-conta ou vê-lo apenas como um adorno, enquanto um iniciado na cultura do candomblé o tomará como um objeto pleno de significados, no qual é possível identificar a raiz, o orixá da cabeça e o tempo de iniciação, entre outros dados da vida espiritual de quem o usa.
Pode ser chamado fio-de-conta desde aquele de um fio único de miçangas até um colar com vários fios presos por uma ou várias firmas. A quantidade de fios pode variar de uma nação para outra na correspondência de cargos.
Existem cinco diferentes tipos de fios-de-conta, são eles:
a) Yian/Inhãs: colar simples de uma só fiada de miçangas cuja medida deve ir até a altura do umbigo;
b) Delogum: colares feitos de 16 fiadas de miçangas com um único fecho cuja medida, como os Inhãs, vai até à altura do umbigo. Cada iaô deve possuir, normalmente, um Delogum do seu orixá principal e outro do orixá que o acompanha em segundo plano;
c) Brajá: longos fios montados de dois em dois, em pares opostos. Podem ser usados a tiracolo e cruzando o peito e as costas. É a simbologia da inter-relação, do direito com o esquerdo masculino e feminino, passado e presente. Quem usa esse tipo de colar é um descendente dessa “união”;
d) Humgebê/Rungeve: feito de miçangas marrons, corais e seguis (um tipo de conta);
e) Lagdibá/Dilogum: feito de fios múltiplos, em conjuntos de 7, 14 ou 21. São unidos por uma firma (conta cilíndrica).
Comidas
Existem certas peculiaridades no candomblé que às vezes as pessoas não compreendem muito bem. Uma delas é a culinária.
Nas religiões de matriz africana, as comidas específicas de cada orixá requerem um verdadeiro ritual em seu preparo. Esses alimentos, depois de prontos, são oferecidos aos orixás acompanhados de rezas e cantigas. São chamadas comida de axé, pois acredita-se que o orixá aceitou a oferenda e as impregnou de axé.
Um dos significados que podemos atribuir à palavra axé é a transmissão de força e recriação, evidenciada na lei de que tudo que dispomos na natureza, até mesmo a vida, deve-se a ela devolver. Por isso, quando queremos levar nossos pedidos aos orixás, o fazemos por intermédio de uma oferenda em forma de comida. Sabemos que estes pedidos vão ser ouvidos de acordo com a forma como são transmitidos .
Considerações finais
O candomblé é uma religião que tem no centro o rito, as fórmulas de repetição, pouco importando as diferenças entre o bem e o mal no sentido cristão. Ele administra a relação entre cada orixá e o ser humano que dele descende, evitando, através da oferenda, toda sorte de conflito que leva à infelicidade. Como religião em que não existe a palavra no sentido ético, nem a conseqüente pregação moral; o candomblé (como as outras religiões de matriz africana) é sem dúvida uma alternativa religiosa para grupos sociais que vivem em uma sociedade como a nossa, em que a ética, os códigos morais e os padrões de comportamento podem ser pouco, variado e até mesmo sem nenhum valor.
O candomblé é uma religião que afirma o mundo, reorganiza seus valores e revestem de estima muitas das coisas que outras religiões consideram más, como por exemplo, o dinheiro, o sucesso e o poder. Porque o candomblé não distingue entre o bem e o mal do modo como aprendemos com o cristianismo, ele tende a atrair todo tipo de indivíduos que têm sido socialmente marcados e marginalizados por outras instituições religiosas e não religiosas. Isto mostra como o candomblé aceita o mundo, mesmo quando ele é o mundo da rua, da prostituição, dos que já cruzaram as portas da prisão. Mas, se o candomblé libera o indivíduo, ele também libera o mundo.
Na nossa sociedade das grandes metrópoles, se a construção de sentidos depende cada vez mais do desejo de grupos e indivíduos que podem escolher esta ou aquela religião, a relevância dos temas religiosos igualmente pode ser atribuída de acordo com preferências privadas.
A religião é agora matéria de preferência, de tal sorte que até mesmo escolher não ter religião alguma é inteiramente aceitável socialmente. Assim, os orixás africanos apropriados pelas metrópoles mundiais não são mais orixás da tribo, impostos aos que nela nascem. Eles são orixás em uma civilização em que os indivíduos são livres para escolhê-los ou não, continuar fielmente nos seus cultos ou simplesmente abandoná-los, sabendo sempre que devem estar preparados para assumir as conseqüências de seus atos.
Pierre Fatumbi Verger
Pierre Fatumbi Verger, viveu durante dezessete anos em sucessivas viagens, desde 1948, pelas bandas ocidentais da África, em terras iorubás. Tornou-se babalaô em Kêto, por volta de 1950, e foi por essa época que recebeu de seu mestre Oluwo o nome de Fatumbi: "Aquele que nasceu de novo (pela graça) de Ifá".

2 comentários:

  1. Um texto de uma boa qulidade,recomendo para todos,amantes de qualquer religião.

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  2. Não é verdade que não possa haver uma cerimônia de candomblé, sem que haja a presença dos atabaques.
    Certa vez em casa de Pai baiano (Babalorixá Waldomiro Costa Pinto), testemunhei haver a possibilidade, sugerida pelo próprio Babalorixá, diante a ausência de ogãs, da cerimônia acontecer apenas ao som do agogô. Essa sugestão feita pelo Babalorixá, me fez lembrar das perseguições ao Candomblé no passado, e também ao Xangô de Pernambuco, onde não havia possibilidade alguma de haver o rufar dos tambores.

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